O duo Röyksopp é oriundo de uma pequena cidade
da Noruega chamada Tromso. Um lugar que pela sua
proximidade ao circulo ártico permite que a cidade permaneça na
mais completa escuridão durante cerca de seis meses, ou seja metade do
ano.
Os Röyksopp pertencem à chamada nova escola do electro "made
in" escandinavia.
Os seus dois membros, Tobjorn Brundtland e Svein Berge,
conheceram-se ainda enquanto frequentavam o liceu. Para ser cronologicamente
mais preciso, bem lá no início da década de 90. Começam
desde logo a compor ainda que de forma mais experimental e quase que em tom
de brincadeira tudo aquilo que lhes ia na alma. Tudo sempre com fortes e explícitos
conteúdos que nos remetem de imediato aos saudosos anos 80 e aos sintetizadores
que são na realidade a grande imagem de ligação de todos
aqueles que gostam de sons com uma base mais electro e que hoje ainda une gerações
ainda que de décadas diferentes. Assim continuaram durante algum tempo.
Anos mais tarde acabam o liceu, resolvem então também parar o
projecto por ali. Separam-se . Cada um foi para seu lado procurando realizar-se
profissionalmente. Se correu bem ou não, de facto não sei, o que
é facto é que pouco tempo depois e já no final da década
de 90, para ser mais preciso em 1998 resolvem de novo reencontrar-se pôr
mãos á obra e continuar o projecto agora denominado de Röyksopp.
Começaram então a trabalhar e a gravar juntos.
Pouco tempo depois, em 2001 nasce o primeiro cd "Melody A.M"
um cd fruto de um contrato que os ligaria á "Wall of Sound".
Os dois primeiros singles, "Eple" e o "Poor Leno",
tornaram-se quase que instantaneamente presenças obrigatórias
nas play list das principais rádios e referencias obrigatórias
nas pistas de dança, oferecendo uma alternativa pelo menos distinta a
todos os que procuravam por uma algo diferente e refrescante no campo da electro.
Entre os nomes que tiveram forte influencia no trabalho e crescimento da banda
importa destacar três nomes que julgo de extrema importância pelo
conjunto de influencias que emprestaram á banda. São eles, Erik
Satie, Francis Lay e Brian Eno.
Erik Satie, compositor clássico oriundo de Pont-
l´Èvêque, região da Normandia, França.
Distingui-se como compositor mas não só, também era caricaturista
e escritor, chegando mesmo a lançar escritos autobiográficos sobre
si mesmo. Destaco "Mémoires d´um Amnésique" que
não é mais nem menos do que um dos famosos escritos autobiográficos
que Satie fez sobre si mesmo e que teve grande sucesso na época.
Algo que muitos não saberão é que Satie foi o grande
inventor e impulsionador da chamada música de ambiente ou "musique
d´ameublement" como ele inicialmente a denominou. Ele tinha um conceito
muito próprio da música que criava. Para ele a música deveria
ser usada como mobília, para encher o ambiente. A sua brilhante carreira
umas vezes mais reconhecida outras completamente ignorada deixa-nos para além
de tudo que destaquei um conjunto de obras para piano de valor inquestionável.
Francis Lay, é muito provavelmente umas figuras mais curiosas
e estranhas que encontrei nesta pesquisa. Destacou-se nos anos 70 enquanto produtor
e compositor numa área e num movimento muito pouco conhecido que se chamava
"Porn art Movies". Pois nem mais. Acho que o nome diz
tudo
Infelizmente e apesar de ter procurado com grande insistência mais coisas
sobre ele a verdade é que não há muita informação
disponível.
Por fim, e sem dúvida bem mais conhecido temos Brian Eno.
Eno, foi o pioneiro da música ambiente moderna e do "glam-rock"
é um verdadeiro filósofo da música, multi-instrumentista.
Grande mentor da cultura pop moderna, foi também padrinho do "no
wave", música de dança electrónica e da
"new age". Palavras para quê….Um verdadeiro génio.
Ao longo da ainda curta carreira que tem, os Röyksopp já tiveram
a oportunidade de trabalhar e de cooperar com imensos artistas e bandas da noruega
e internacionais. Aproveito para destacar o contributo fantástico que
tiveram num dos últimos álbuns dos também noruegueses "Kings
of Convenience". Tendo ainda feito para eles um remix da musica "I
Don´t know what I Can save You From".
O talento deste jovem duo desde logo deu nas vistas. Este duo dinâmico
não conseguiu passar indiferente ao reconhecimento quase em tom de veneração
que foi surgindo. Só assim se consegue explicar a aproximação
de um grande senhor da música de seu nome Tom Yorke.
Tom Yorke dos Radiohead ficou de tal forma hipnotizado com a
forma quase que genial com que compunham e faziam nascer melodias que acabou
apadrinhar a banda acompanhando-a no seu crescimento e até mesmo atribuindo-lhe
primeiras partes dos seus concertos nas digressões.
O som dos Röyksopp acaba na realidade por ser quase que uma ponte
de ligação que combina sons deste século e sons mais
clássicos. Saltam desde logo á vista um conjunto de sons repletos
de um exotismo muito próprio que só é entendível
se tivermos em atenção um vasto leque de nomes e influencias que
ditaram certezas em seus campos de intervenção e constituem melhor
ou pior bases, fontes e referencias para muitos artistas e géneros musicais
de várias épocas.
Muitos músicos conceituados, quando por vezes se lhes pergunta que influencias
podemos encontrar nos sons que produzem muitas vezes não sabem responder
e refugiam-se nesta ou naquela banda ou então inventam um novo sub género
musical no qual naturalmente se integram, pois não conseguem classificar
aquilo que produzem. Neste campo os Röyksopp pelo menos foram genuínos.
Aliaram talento, inteligência e originalidade e dão aqui uma valente
lição de como se pode ir tão longe e a áreas tão
distintas descobrir inspiração, criatividade e transformá-la
em música atractiva e inovadora.
Melody A.M. é na realidade um disco sóbrio, bem concebido,
onde a vontade de criar música supera barreiras e descobre novos caminhos.
Para quem não conhece ainda Röyksopp deixo ainda algumas
sugestões que passam naturalmente pelos temas obrigatórios do
álbum tais como: Por Leno, Eple ou ainda
Remind Me, sem deixar contudo de referir os dois mais recentes
singles : Sparks (meio lounge) e So Easy.
Agostinho Spinola - Portugal |