GARY NUMAN "PRAYING TO THE ALIENS"
O Alienígena
da Música Eletrônica
(autobiografia co-escrita com Steve Malins, colaborador da revista Q)
Li naquele manual da New Wave, um caderninho especial da Bizz,
que além dos nomes mais conhecidos do TECHNOPOP, valia a pena citar
outros de menor importância como o de GARY NUMAN. Quem escreveu
esta bobagem foi o Sr. Jean-Yves de Neufville. Apesar de achar que Gary
Numan é genial, admito que sua autobiografia sugere exageradamente
que a música eletrônica não seria a mesma sem a sua
existência, se esquecendo completamente da grandeza do Kraftwerk.
Gary Numan pode não ser bem conhecido por aqui na terra do carnaval,
mas vendeu horrores lá fora a ponto de poder ter seu próprio
avião. Ele teve a sorte de alguém da gravadora (quem ele
não sabe até hoje quem é) ter tido a fantástica
idéia de lançar a música Are
'Friends' Electric? em um picture disc. Segundo Numan,
isso o ajudou a decolar nas paradas britânicas a ponto de intimidar
até mesmo seu maior ídolo: David Bowie.
Apesar de ser amante da tecnologia, Gary Numan iniciou sua vida na música
bem cedo com uma banda praticamente punk. Antes mesmo de lançar
seu primeiro álbum percebeu que sua marca registrada seria deixada
no pop com o sintetizador. Para Numan o punk já tinha seus dias
contados, e teve que lutar com a gravadora para convencê-la a deixar
incluir o som das máquinas ainda em seu primeiro disco.
No
seu segundo disco, Replicas de 1979 (nesta época
ainda assinava como TUBEWAY ARMY) já estava tomado pelos
sintetizadores e histórias de ficção científica.
Are 'Friends' Electric, Replicas,
Down in the Park são
fragmentos de histórias inspiradas pelos livros de Philip
K. Dick.
O seu terceiro disco The Pleasure Principle de 1980 (o que
tem o hit Cars e já
só como Gary Numan), é a sua maior contribuição
para a música pop. Nele Numan acreditou cegamente nos sintetizadores,
excluindo totalmente as guitarras mas deixando ainda a bateria acústica,
combinação perfeita que daria a característica peculiar
de Gary Numan; a mescla de atitude rock mas com os olhos para futuro.
Sua fase áurea termina com o álbum Telekon,
na turnê em que Numan deu três grandiosos shows de despedida
no Wembley Arena em 1981. O technostar canta para milhares
de pessoas a faixa Please Push No More,
que com certeza deve ter emocionado a banda e seus fãs. Nesta música,
Numan canta: "Agora que estou atrás deste vidro, direi
a vocês... não exijam mais de mim...", uma amarga
despedida de seus fãs, que lhe custaria muito depois. Até
aí Numan já era milionário e já tinha entrado
em parafuso com sua fama. Várias das músicas do Telekon
falam sobre ficar famoso.
Nesta biografia Numan explica faixa por faixa, fase por fase de sua vida
de altos e baixos, e assim fica mais fácil entender suas letras
mecânicas "...you plug me in and turn me on..."
de suas canções únicas no technopop. Estas são
sem sombra de dúvidas, as partes mais atrativas do livro. As mais
pesadas porém, são quando ele mergulha em sua outra paixão
além da música: aviões. Nestes trechos, o leitor
se embriaga com tantos nomes e termos técnicos de aviação,
que talvez Numan se esforçou para não exagerar na dose.
Apesar de tudo, nestes trechos há momentos de certo suspense, principalmente
no qual ele quase morre em seu avião que se desligava e descia
com toda velocidade rumo a sua destruição mas que de repente
se recuperava e ganhava altitude.
Numan torrou quantidades horrendas de dinheiro em uma viagem pelo mundo
em seu avião pequeno. Houve momentos que ele deixava o avião
em qualquer parte do mundo, voltava para a Inglaterra num vôo convencional
só para buscar uma peça para reparar seu avião. Excessos
de superstar.
Ao
contrário do que muitos pensam, segundo Gary Numan, ele nunca foi
viciado em drogas ou bissexual. No começo de sua carreira, escrevia
letras vestindo esta máscara para disfarçar sua vida ordinária
e sua falta de experiência (quando subiu no topo nas paradas com
Are 'Friends' Electric Numan
tinha apenas 21). Numan insere nas suas histórias suas decepções
amorosas, suas mulheres, suas noitadas com tietes (houve uma época
em que ele e os membros da sua banda faziam competições
do tipo quem transou no lugar mais exótico, quem transou com mais
tietes, etc...) e como ele acabou sendo desprezado pela mídia britânica
até se afundar em dívidas e ter que fugir dos bancos e salvar
a casa de seus pais da hipoteca.
Em meados dos anos 90, uma febre numaníaca assola
os pop stars da Inglaterra e de repente vários nomes do rock inglês
começam a fazer covers e citar Numan como uma de suas maiores influências.
Isso atinge até o outro lado do Atlântico quando até
o Foo Fighters faz uma versão para Down In The Park que
foi parar na trilha sonora do Arquivo X, muito elogiada por Numan
em sua autobiografia. Dos nomes que gravaram covers de Numan estão
Marilyn Manson, Beck, Smashing Pumpkins, Dubstar, Bis, Magnetic
Fields, St. Etienne, entre outros. Duas coletâneas-tributos
ao Gary Numan saíram: Random e Random 2 (com remixes).
Gary narra em seu livro a sua história até o álbum
Exile (que saiu no Brasil, e claro foi pobremente divulgado)
de 97, que contém letras com temas religiosos e peso eletrônico.
Em Exile, Numan perde sua característica fria, robótica,
de morto vivo que mais o marcou em sua carreira musical e se aproxima
do gótico-cliché, cambaleando entre um Enigma e um
Nine Inch Nails.
Ao terminar de ler este livro, se o leitor já gostava
de Gary Numan por alguma razão, acaba gostando muito mais dele,
pois sua história termina sendo bastante positiva, e apesar de
sua insegurança no começo de sua carreira, Numan sempre
acreditou que seria um pop star. E é bom ressaltar que ele achava
isso desde pequeno. Conclui-se então que para ser HUMAN
como GARY NUMAN (frase da banda Nancy Boy), é ter altos
e baixos, e olhar para frente para preparar o terreno para o seu próximo
passo. Esperemos para que ele aterrize em nossas terras antes de desistir
de excursionar. Compre-o e pratique seu inglês, já que infelizmente
esta biografia não saiu aqui ainda.
Fábio Justo
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