Após a morte de Ian
Curtis, chega ao fim uma das principais bandas pós-punk, o
Joy Division, uma das primeiras a introduzir o romantismo às
suas letras.
Os remanescentes se auto
impõe uma nova ordem, o New
Order, tentativa de mudança frustrada
no início, quando em julho de 80, meses após a
morte de Ian, ainda estavam sob o fantasma do antigo vocalista,
não conseguindo adquirir uma identidade própria,
mantendo-se muito próximos do estilo do Joy. "Precisávamos
gravar alguma coisa, estávamos muito abalados e
precisávamos preencher nosso espaço de desespero",
disse Hook, na época do lançamento do single
Ceremony de 1981, com letra ainda de Ian Curtis. Nessa nova fase
Morris, responsável pela bateria e pela percussão
eletrônica, chama para a banda sua namorada, a tecladista
Gilian Gilbert.
O fantasma de Ian ainda
assustava a Nova Ordem quando resolvem gravar o álbum Movement,
único ainda indisponível em CD no Brasil.
São destaques desse trabalho, ainda com os dois
pés no pós-punk, as músicas The Him,
Dreams Never End e ICB, que segundo diz a lenda significa Ian Curtis is
Buried. Mesmo sendo impossível, é como se o Ian
tivesse chegado atrasado no estúdio para a
gravação e como a banda, independente e sem
dinheiro para pagar a próxima hora, mesmo sem ele gravasse o
álbum.
O single Everything is Gone Green, com
composições próprias, já
tem um ritmo mais novo, embora o clima seja muito parecido. Em maio de
1982 lançam Temptation, com uma sonoridade kraftwerkiana,
com letra bem new romantic, a lá Bryan Ferry. Em 1983
descobrem a seqüência de bateria que os tornaria a
banda independente mais famosa do mundo e levaria a Factory e
Manchester ao conhecimento de cada canto da Terra: Blue Monday, o
single de 12" mais vendido da história. A cult band,
completamente independente, chega ao mainstream. Como diz o
próprio Hook, “sem perder a
independência e o fim alternativo. Hoje somos a banda mais
respeitada do mundo, somos os únicos que fazemos o que
queremos fazer". Com Blue Monday e o álbum
subseqüente, Power, Corruption and Lies, o
New Order consegue combinar sua independência e sua veia
alternativa com o reconhecimento como uma das melhores bandas dos 80 e
como a melhor banda de technopop da história, sendo este um
fato único na história da música.
Nesta fase os vocais já assumem personalidade
própria e o New Order mostra suas influências que
vão de David Bowie e Iggy Pop até Kraftwerk,
influenciando os Smiths, Pet Shop Boys, Chemical Brothers, 808 State,
Moby, Wolfsheim, De/Vision, Celebrate the Nun, entre outras dezenas de
bandas. Ainda é responsável pelo
lançamento de Section 25, uma das melhores bandas technopop
dos 80, trazendo a banda para a Factory e colocando-a para abrir os
seus shows.
Manchester começa a ser freqüentada por jornalistas
do mundo inteiro, mas o New Order continua o mesmo da época
do Joy. Embora suas músicas alternativas tenham se tornado
grandes sucessos, continuam rejeitando o estrelato, não
gostam da mídia, nem de entrevistas, e nunca aceitaram as
paparicações das grandes gravadoras e revistas
especializadas em Pop Music.
Em meados de 1983, lançam Confusion, mais um racha-assoalho,
desta vez com produção de Arthur Baker. Afastados
dos palcos e com uma pausa nos LPs, lançam Thieves Like Us,
single de 1984. Prensam finalmente o Low Life,
melhor álbum do New Order, único em que aparecem
as fotos dos integrantes da banda, cujas capas em geral dispensam todo
apelo comercial graças à independência
da banda.
Vale a
pena comentar que algumas das melhores capas dos 80 com certeza foram
as maravilhosas criações de Peter Saville para o
New Order. Responsável pela arte das capas da Factory, Peter
Saville, que tem até uma trilha sonora só para
ele feita pela banda, foi o artista que em 1983 idealizou a capa de
Power Corruption and Lies, a mais bela da história da
música, um quadro de um artista francês entitulado
Roses, influenciando mais uma vez o Trisomie que dois anos mais tarde
lançaria um álbum com um trabalho do Goya.
Saville foi também responsável pela genial capa
de Blue Monday, a mais revolucionária da
história: um disquete simplesmente, sem foto da banda ou
nome do artista. A Nova Ordem trazia o futuro para a música,
um CD saindo de um disquete, prevendo a invasão da
música digital.
Em 1986 lançam Brotherhood e mais um hit
histórico: Bizarre Love Triangle. Em 1987 mais uma pausa nos
trabalhos de estúdio, com o lançamento de uma
coletânea de seus 12" até então, Substance,
o trabalho mais adorado pela maioria dos fãs, que foi mais
um estouro de vendas, com apenas uma música
inédita, a maravilhosa True Faith. Iniciam nesse
período uma longa turnê que chega até o
Brasil em 1988, dia 25/11 no Rio de Janeiro, em São Paulo,
no Olympia, no dia em 30/11 e no Ibirapuera dias 1, 2 e 3/12/1988. No
último show brindaram os presentes com o cover de Love Will
Tear Us Apart no bis. Já em 1989 lançam Technique,
com mais um super hit, Round and Round, finalizando três anos
de espera por um novo álbum.
Em 1990, enquanto o Brasil cria um samba como tema da
seleção na Copa, na Irlanda o U2 grava rock e na
terra da rainha e dos sintetizadores, como não poderia
deixar de ser, o technopop é a trilha sonora até
mesmo dos estádios de futebol: World in Motion é
o tema da seleção inglesa, gravado pelo New
Order, a pedido da rainha, junto com os jogadores, cujas vozes aparecem
na versão 12".
Depois disso o New Order entra em estado latente. Bernard Sumner
(vocais) convida Neil Tenant e Chris Lowe do Pet Shop Boys e Johnny
Marr, que dispensa apresentações, para formar o
super grupo da última década do
milênio: o Electronic.
Lançam em 90 o single de Getting Away with it, que estoura
nas pistas de todo mundo, seguido do álbum Electronic.
Presentearam com uma noite histórica os
felizardos que estavam no Dodgers em Los Angeles para assistir ao show
do Depeche Mode. Quem abriu a noite? Electronic! Todos os 60 mil
ingressos foram vendidos em menos de uma hora, um recorde mais do que
esperado para essa reunião ultra solene do Depeche Mode, com
integrantes do New Order, Pet Shop Boys e Smiths, em um mesmo local,
para um mesmo show, em uma noite completamente inacreditável.
Peter Hook
se vinga e forma com Dave Hicks e Chris Jones o Revenge,
cuja sonoridade e até mesmo os vocais tentam imitar o New
Order. Seu outro projeto, anos mais tarde, o Monaco, teve mais cara
própria e musicalidade marcante, obtendo inclusive um
razoável sucesso com What Do You Want from Me?
Os
outros dois, Morris e Gilbert, formam o The
Other Two. Nenhum outro nome caberia melhor. Estes, por sua
vez, estavam mais preocupados com o techno e às modas da época,
o que na volta ao estúdio do New Order foi marcante para o um
estilo mais comercial que infelizmente a banda acabou fazendo em Republic
(álbum de 1993). Os sintetizadores cederam lugar para a guitarra
(que estava na moda e dando dinheiro, uma mudança infeliz para
uma banda que era a melhor na independência, virar perseguidora
de sucessos para gravadora, mas a falência da Factory, os levou
a ficar mais comerciais) e o que não é puro rock, aliás,
os maiores sucessos da época são dessa linha, parte para
o techno e rap, o que não combina com a maravilha eletrônica
que sempre foi essa sensacional banda de Manchester. Dos últimos
trabalhos destacam-se somente Regret, World e Crystal do álbum
Get Ready de 2001. Em 2004 lançam o álbum Waiting
for the Sirens to Call.
Cris Maggio e Marcos Vicente
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