Media  |
Fale  |

ENTRE"PISTAS" - AUTOBAHN

Zero

Inaugurando a seção entrevistas do site, convidamos Guilherme Isnard, vocal do Zero, e que está há na cena noturna de SP. Nesta seção você encontrará as "pistas" dos ícones dos 80 para decifrar mais da década e suas bandas preferidas. Entrevista feita por Marcos Vicente, organizador do Projeto Autobahn em 11/06/2003. Confira a íntegra desta entrevista histórica, que desvenda várias dúvidas dos fãs, entra um pouco no gosto pessoal de Isnard e dá um ótimo retrato da época de ouro da música. Os anos 80.


Banda Zero em 86 - look New Romantic

Marcos Vicente (Projeto Autobahn): Como foi o nascimento do Zero (idéias, ideais, momento, época)?

Guilherme Isnard (Banda Zero) -
O ZERØ surgiu quando sai da minha primeira banda, os "Voluntários da Pátria". Um amigo, o Luiz Antônio da Underground discos, cismou que eu tinha de ouvir uma banda instrumental de punk jazz chamada "Ultimato". Fui lá, ouvi e adorei o estilo, propus aos caras, inicialmente 5 arquitetos, criar letras e melodias pros temas instrumentais e assim começamos a nossa aventura. O som era mais agressivo, punk jazz na origem, e no resultado virou art-rock com um punch hard-core. As letras eram niilistas e a nossa proposta era a de questionar criticamente os rumos e conquistas da sociedade, do indivíduo e da humanidade.

MV: Por que o nome? Origem e significado especiais?

GI: ZERØ era mais um nome em uma lista de várias opções, foi sugerido e escolhido por mim por vários motivos, o principal? A sonoridade, mas também contou muito a adequação do nome a proposta niilista, o fato de ser o ponto neutro de qualquer escala, o fato de ser o elemento que somado ao outro reproduz esse outro e ainda porque eu lembrei de uma entrevista em que o Sting contava que escolheu o nome "The Police" porque Police era escrito da mesma maneira em vários idiomas, todo mundo sabia o que era. O mesmo acontece com ZERØ, daí termos nos decidido por esse nome.

MV: Qual a sua música preferida do Zero (a que mais curtiu fazer e cantar)?

GI:  A clássica resposta... não tenho uma preferida e sim várias... mas pra te responder vou sair de cima do muro e te dizer uma: "Quimeras", porque ela foi escrita intuitivamente, em uma época em que eu não tinha ainda trabalhado o meu desenvolvimento espiritual e mesmo assim consegui passar uma mensagem de profunda espiritualidade. Isso é o mais importante a respeito das minhas composições, eu gosto de passar mensagens.

MV: Quais foram as principais influências?


GI: Sempre gostei de acreditar que as nossas influências não se refletem na nossa sonoridade, eu prefiro crer, pretensiosamente, que o ZERØ tem estilo próprio.
Então onde se ler: "influências", leia-se: "bandas que gostamos de ouvir".  O ZERØ da formação original até que podia soar gótico, a temática era soturna e as influências iam de "Gang of Four" a "Talking Heads", passando por 'Bauhaus" e "Joy Division". Mas na formação clássica éramos uma banda neo-romântica progressiva - se é que isso existe - e as influências menos óbvias, mas eu gostava muito de "Simple Minds", "Tears for Fears", "Depeche Mode", sem nunca deixar de lado os ídolos progressivos como o "Gênesis" e "Pink Floyd". Resumindo, as nossas maiores influências foram o "Progressive Rock" inglês dos anos 70, a "New Wave" inglesa e o "Art-Rock" norte americano dos anos 80.

MV: O último álbum tem algumas mudanças, músicas com novos formatos, quais as
diferenças do Zero dos 80 e de hoje?


GI: Outro momento, outros músicos, outras canções, mas basicamente a banda hoje é um power-trio de baixo + guitarra + bateria, consequentemente os arranjos estão mais sintéticos, essenciais mesmo, e as músicas mais porrada. Aboli os teclados, mas espero acrescentar loops e efeitos em playback. As raizes estão mantidas, mas camaleonicamente transmutadas.

MV: Sua música preferida dos anos 80:

GI: Putz!!!! Essa então é difícil... vou ter que escolher só uma é? "Without You" do "The Cure", "Rapture" de "Blondie" e "Under Pressure" do "Queen & David Bowie". Ops!!! Não posso esquecer de "Tainted Love" do "Soft Cell" e  "Rio" do "Duran Duran", caramba se continuar assim vai virar um hit-parade.
Parei.

MV: Clipe preferido:

GI: Essa é fácil, "Ashes to Ashes" do "David Bowie"

MV: Show inesquecível do Zero:

GI: Fácil também. Show de lançamento do "Passos no Escuro", em temporada de 3 dias no Teatro do MASP, na av. Paulista, com direção da Fernando Zariff.

MV: Tem alguma música do Zero que gostaria de ver remixada?

GI: Várias, especialmente "Mentiras" do último CD.

MV: Cena inesquecível de algum show, pode ser um tombo, ou algo assim...

GI: Eu nunca levei tombo, o Eduardo já virou uma cambalhota ao contrário com guitarra e tudo no meio do solo, sem errar a nota. Mas a minha cena inesquecível foi na primeira vez que o meu filho Daniel, na época com 4 anos, subiu no palco pra cantar "Agora Eu Sei" comigo e a galera, leia-se: a mulherada, foi ao delírio.

MV: Você jogava Atari? Sei que talvez já estivesse mais crescido na época, mas virou a marca de uma geração.

GI: Atari não jogava não, até cheguei a jogar "Space Invaders", mas comecei nos video-games na época do Philco, jogando ping-pong, lembra? Além disso, eu sempre curti mais "pin-ball", sou da geração "Fliperama", mas, paradoxalmente, já fui viciado em "Game Boy".


Guilherme Isnard num show no Masp em 86,
fase New Romantic mais apurada.

MV: Eu considero o Zero uma banda New Romantic brasileira, podemos usar este termo, inclusive pela base technopop mais cadenciada do que o technopop inglês. Vejo um som meio Bowie, OMD, Bryan Ferry, Japan, Classix Nouveaux, a banda estava musicalmente próxima ao que de melhor tinha na música inglesa na época. O que você me diz?

GI: Como te disse acima, realmente a música inglesa é a nossa influência preponderante, mas sempre tivemos a intenção de fazer um som "nosso" e o que eu te digo é que quando faço um retrospecto imparcial das minhas composições, eu - a não ser pelo idioma - não teria como situar geograficamente a nossa produção.

MV: Podemos considerar o Zero uma das poucas bandas New Romantics brasileiras?

GI: Claro que sim, pelo menos é a única que eu conheço, existem outras?

MV: Como descreveria o estilo new romantic do Zero, é difícil ser um new romantic num país com tanta influência conspirando contra? (Já adianto que me considero um New Romantic de carteirinha, mas tirando a festa Autobahn, vejo poucas oportunidades de sair e me divertir ao som de Ferry, Duran, Japan, Classix). O Zero hoje é uma banda 80s com pitadas de atualidade, ou pode ser uma banda atual com pitadas de anos 80?

GI: Definitivamente uma banda atual com pitadas de anos 80. Neo-romântica naquela época, hoje acho que é romântica mesmo (como eu posso me intitular de "neo" 20 anos depois, rsss...), não no sentido afetivo piegas do termo, mas no sentido de continuar perseguindo ideais quiméricos. Eu me sinto muito a vontade pra falar de amor, e acredito que o amor é o sentimento de fundo em todas as questões e é por isso que me apego ao tema.

MV:  Qual a formação do Zero hoje (incluindo origens de bandas dos outros músicos)?

GI: Jorge Pescara no baixo - atualmente toca com a Itamara Koorax e está lançando seu primeiro CD solo, onde eu canto "Cashmeer" do "Led Zepellin", em Londres.
Yan França na guitarra - toca no Funk'n Lata projeto multi-cultural do Ivo Meirelles.
Kim Pereira na bateria - ex- Tony Platão.
Além de sempre contarmos com participações dos ex-integrantes das formações original e clássica.

MV: Nos anos 90 o Zero ficou meio fora do cenário musical mais pop - ouvi dizer que você andava produzindo, cantando pouco, fazendo covers do Bryan Ferry. Você acha que naquele momento não havia espaço para o estilo?


GI: Naquele momento não havia espaço pra mim e meus projetos, mesmo assim eu me envolvi com o repertório do Ferry montando a big-banda "Roxy Nights" com o falecido Chico Melão, me envolvi com o samba de teleco-teco, fazendo shows com o grande Miltinho e excursionei 1 ano e meio com o mega musical "O Abre Alas!" que contava a vida da inventora da musica popular e da mulher moderna brasileira, a Chiquinha Gonzaga", onde eu representava o Joaquim Antônio Callado, inventor do chorinho. No mundo pop estavam reinando ex-bandas de baile como o Jota Quest e Skank e alguns poucos remanescentes do movimento 80s.

MV: E agora com um revival mais enfático nos anos 80 nos últimos anos as oportunidades reapareceram? A volta de RPM, Metrô, Capital Inicial, que também ficou de fora um tempo, ajudou essa cena?


GI: Claro que sim. E lá vamos nós s'imbora'tra'vez...

MV: O que você tem ouvido ultimamente?

GI: Cousteau, www.cousteau.tv, checa e depois me fala...

MV: Bandas atuais, vê alguma em especial?

GI: No Brasil? "Nelson e os Gonçalves", banda sensacional, cariocas da zona oeste. Na Inglaterra, Cousteau. Mas gosto de várias outras... só não ouço muito. Ando mais voltado para a pesquisa do passado. Descobri que tem muita coisa boa dos anos 30, 40 e 50 que eu ainda não conheço.

MV: O que mais tem saudade daquela época, como artista ou como oitentista?

GI: Eu tive a oportunidade de viver na melhor cidade do terceiro mundo nos anos 80, São Paulo. Saudades do Napalm, Carbono 14, Madame Satã, Rose Bom-Bom... O que eu mais sinto falta é desse tipo de casa noturna 3 em 1 que eram as danceterias, você ia, bebia, comia, dançava e assistia a um show com apenas um ingresso e tudo no mesmo lugar.

MV: Você já pensou em tocar como DJ convidado numa festa?

GI: Discotequei várias festas nos anos 80 no Rose Bom-Bom e nos anos 90 fiz festas na Dr. Smith no Rio de Janeiro tocando as pick-ups.

MV: Que tal a Autobahn?

GI: Já te disse, A D O R A R I A !

MV: Se tocasse qual estilo você preferiria, músicas para agitar a pista ou mais
relax para um lounge?

GI: Eu sou DJ de pista.

MV: Bowie ou Ferry?


GI: Os dois e mais o David Sylvian e, agora, o Lian McKahey do Cousteau.

MV: Duran Duran ou Spandau Ballet?

GI: Os dois, pô assim tá difícil. Certo... vantagem pro Duran-Duran

MV: Human League ou Japan?

GI: Caramba! Adoro os dois, mas não se misturam, um é pop e o outro puro drama.

MV: Yazoo ou Soft Cell?

GI: Até que enfim uma fácil... Soft Cell é claro!!! Sou fãzaço de Marc Almond

MV: B-52's ou Devo?

GI: Outra fácil, Devo é claro, mas gosto bastante dos Bifititus.

Esta é a estréia da nova seção do projeto Autobahn, onde Marcos Vicente, criador e organizador apresenta bate-papos informais com artistas da década de 80. Onde você poderá saber mais sobre as bandas dos 80. Em breve mais entrevistas aqui no Autobahn. Fique conectado.