No Ritmo de uma Geração
Mito perdido da trilha de "Flashdance" Michael
Sembello fala do sucesso passado, dos planos atuais e até mesmo
de Michael Jackson
THIAGO SARKIS – O que você anda fazendo hoje em dia?
MICHAEL SEMBELLO Estarei viajando em Novembro para a Amazônia
em busca de inspiração, para cantar e aprender com os índios
Caiapó. Além disso, a gravadora italiana Frontiers lançou
uma compilação de algumas faixas de rock antigas da minha
carreira que eu não havia lançado ainda. Também estou
envolvido na gravação de um álbum de blues, outro
de jazz, e em um grupo latino de salsa cantando em espanhol.
TS: Falando em Brasil, você trabalhou com o neto de Tom Jobim,
Daniel Jobim, certo? Como foi isso? Como vocês se conheceram?
MS: Vou trabalhar com Daniel novamente agora com essa viagem. Não
me lembro direito como nos conhecemos, mas quando garoto fui muito influenciado
pela música do avô dele. Me lembro de grandes professores
que tive, verdadeiros mestres da música como Chuck Anderson e Dennis
Sandole e de aprender aos doze anos, e tocar freqüentemente, "Garota
de Ipanema".
TS:Você teve também outros projetos logo após
Flashdance e mesmo antes do filme. Fale nos um pouco sobre isso.
MS: Depois de "Flashdance", tive vontade de conhecer
outras culturas, buscar novas inspirações. Cantei em muitas
línguas. Viajei bastante. Também produzi, compus e estive
ao lado de Stevie Wonder, Barbara Streisand, Julian Lennon, Minnie Ripperton,
Michael Jackson, entre outros...
TS: Aproveitando a deixa e já fazendo um corte. Desse tempo
que você teve trabalhando com Michael Jackson, o que você
tirou de proveito? Há muita polêmica sobre ele, comentários,
acusações. Você acredita nisso tudo?
MS: Não. Michael Jackson é uma alma maravilhosa,
um artista fantástico e foi muito bom trabalhar com ele. Não
posso revelar quem, como, porquê ou o que sei porque posso ser morto,
mas acredito que Michael foi colocado de lado e na mira de tudo ao mesmo
tempo. Ele foi moldado e a mídia vem alimentando mentiras.
TS:
Bom, falemos agora de Flashdance e seu reconhecimento mundial com "Maniac".
Como e quando surgiu a oportunidade de compor para o filme?
MS: Eu conhecia Phil Ramone e nos encontramos certo dia. Ele estava
produzindo a música para o filme Flashdance e conhecia um pouco
de meu trabalho. Ele me pediu algumas músicas para o filme e enviei
para ele uma fita que acidentalmente tinha "Maniac" no final.
Foi um erro, apenas uma demo, e ele acabou escolhendo exatamente aquela.
Foi um completo acidente, uma sorte.
TS: Ou seja, no processo de composição você
não teve contato com a história do filme e não sabia
o que aconteceria, como seria a trama...
MS: Não, eu não sabia de nada. A música já
existia. Eu compus a música com Denny Matkosky e quando a escrevemos
falávamos na verdade de um assassino maníaco. Como eu disse
foi um total acidente Phil ter escolhido esta música. Porém,
Phil é um verdadeiro visionário, como você pode ver.
E ele sabe como orquestrar as coisas certas para um projeto.
TS: Quando você teve um primeiro contato com a história
do filme, o que achou? No mais, você tinha alguma idéia do
sucesso que Flashdance faria?
MS: Não é muito interessante ler um script sobre
uma mulher operária que sonha ser uma dançarina. Eu achava
a história bastante estúpida e acreditava que o filme seria
um fracasso. Isso apenas nos mostra o fator mágico contido no marketing
e no dinheiro por trás de um produto. As pessoas que trabalharam
nessa área, as equipes da Paramount e da Casablanca, merecem reconhecimento
e todo o crédito pelo sucesso de Flashdance.
TS: Esse pensamento de que não seria um bom filme ou um
sucesso era compartilhado na época?
MS: Sim. Os investidores estavam abandonando o projeto do filme
antes mesmo de ser finalizado, pois pensavam ser realmente muito ruim.
A pessoa ou as pessoas específicas das equipes que fizeram o filme
acontecer são um mistério para mim até hoje. Embora
possa apostar, após conhecer Russ Reagan, que ele teve muito a
ver com o sucesso do filme. E claro também Phil Ramone, que sabe
tornar as coisas grandiosas.
TS: De toda forma, Flashdance tem enorme importância para
toda uma geração. Quais seriam as razões disso?
MS: Veja bem, (N. do E.: Michael menciona uma série de citações
do filme e das músicas da trilha sonora, como "dreams can
come true if you have the courage to pursue them" e "take your
passion and make it happen") o filme é repleto de frases motivacionais
e fala sobre quebrar barreiras, superar-se, fazer o que bem entender,
ser tudo o que você pode ser, enfim... Coisas que estão relacionadas
ao poder e potencial do espírito humano. Estes são conceitos
universais e qualquer filme que represente isto claramente atingirá
certo sucesso.
TS: Quais outros filmes você citaria como exemplos disso?
Também fale de filmes que você gosta, que marcaram os anos
oitenta ou a atualidade.
MS: São tantos que é difícil mencionar. Rocky,
Rambo, os filmes de Steven Seagal certamente possuíam alguns desses
aspectos e marcaram a época. São alguns dos filmes que eu
poderia dizer que me agradam. Dos filmes mais atuais, gosto bastante de
Matrix, Dogma, Clube da Luta. Há muitos...
TS: Em relação a músicos. Quais você
citaria como grandes influências e que também foram marcantes
no passado?
MS: Me deu um branco agora, mas eu posso falar de alguns artistas
como Peter Gabriel, Sting, Pat Martino. World music como Nusrat Fateh.
TS: Voltando a Flashdance, agora a trilha, quando
você teve "Maniac" associada ao filme não imaginou
que pudesse se tornar um sucesso? Depois que você viu os resultados
de seu trabalho, como você reagiu?
MS: Não, eu não tinha a mínima idéia
de que a música poderia se tornar um sucesso. O sucesso das músicas
que compusemos veio em decorrência de marketing, promoção.
Nada além disso. E "Maniac" representa apenas uma pequena
parte da minha musicalidade. Sendo bastante franco, não entendo
a razão de tanto estardalhaço sobre a música. As
pessoas parecem agir como um rebanho de ovelhas, seguindo aquilo que lhes
é dito e mandado. Se uma canção toca oito mil vezes
nas rádios, as pessoas obviamente ficam hipnotizadas por ela. Na
verdade, é bastante triste.
TS: Obrigado pela entrevista Michael, grato pelo seu tempo. O espaço
é seu para deixar mensagem aos fãs, amigos...
MS: Eu queria apenas dizer "Namaste", que significa que
me curvo ao Deus dentro de todos vocês. Nós estamos todos
aqui como estudantes da universidade da vida. Há um presente e
uma lição em cada problema e todas as respostas estão
dentro de nós mesmos, e não dentro do livro de uma igreja
ou uma determinada religião. Estas são apenas ferramentas
para nosso treino da vida. Chega um ponto em que precisamos ir além,
buscar maior profundidade dentro de nós mesmos.
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