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A Fantástica Fábrica de Chocolate

 

“Saudações a você, o sortudo ganhador deste cupom dourado do Sr. Willy Wonka. Apresente este cupom nos portões da fábrica às 10:00 da manhã do primeiro dia de outubro e não se atrase. Você pode trazer com você um membro de sua própria família... apenas um... e mais ninguém. Nos seus sonhos mais malucos, você mal pode imaginar as maravilhosas surpresas que o aguardam.”

Há filmes que, menos por méritos cinematográficos (ou artísticos mesmo) e mais por importância na nossa história pessoal, ganham tremendo espaço em nossos corações cinéfilos. Filmes a que assistimos na infância ou adolescência; filmes que ocupavam nossas tardes e nos conquistavam porque, mesmo tão fantasiosos, nos pareciam tão próximos por serem tão hábeis em conquistar nossa imaginação. “A Fantástica Fábrica de Chocolate” é um desses filmes. Dirigido por Mel Stuart em 1971 e que se transformou num dos maiores clássicos da Sessão da Tarde. Este filme é um dos preferidos de toda uma geração. Durante os anos 80 conquistou inúmeros fãs.

“A Fantástica Fábrica de Chocolate” é um livro infantil do escritor galês Roald Dahl, escrito em 1964. O livro é conhecido por sua linguagem fácil e espontânea, bem como por suas detalhadas descrições. Há quem o descreva como um livro de ficção científica para crianças. Foi lançado em 1964 nos Estados Unidos e obteve grande sucesso nas livrarias. Isso levou o diretor Mel Stuart a filmá-lo em 1971, com adaptação para o cinema feita pelo próprio escritor. Essa primeira versão teve Gene Wilder como o polivalente Sr. Wonka.

A Fantástica Fábrica de Chocolate (ou “Willy Wonka and the Chocolate Factory” no original) é um filme mágico. Um dos poucos filmes que consigo assistir várias e várias vezes sem me entediar. Todos os seus atos são praticamente perfeitos e existem cenas inesquecíveis em cada um deles. Também não entrarei em questão alguma sobre o que existe por trás dos filmes. Há até hoje muita história sobre o roteirista que não gostou da versão final, do autor que detestou o filme, enfim, isso não é o ponto em foco. Finalmente, não entrarei em comparações com a nova versão da história lançada recentemente, pois considero a primeira versão como uma obra-prima com encantos que não conseguiram espaço na versão de Tim Burton. Mas isso é uma opinião pessoal... não me levem à mal...rsrs... Vamos ao filme:

FICHA

"A Fantastica Fabrica de Chocolate"
Título original:
"Willy Wonka & the Chocolate Factory"
EUA, 1971, 98 minutos.

Gene Wilder - Willy Wonka
Jack Albertson - Vovô Joe
Peter Ostrum - Charlie Bucket
Roy Kinnear - Sr. Henry Salt
Julie Dawn Cole - Veruca Salt
Leonard Stone - Sam Beauregarde
Denise Nickerson - Violet Beauregarde
Nora Denney - Sra. Teavee
Paris Themmen - Mike Teavee
Ursula Reit - Sra. Gloop
Michael Bollner - Augustus Gloop
Diana Sowle - Sra. Bucket
Aubrey Woods - Bill
David Batley - Sr. Turkentine
Dora Altmann - Vovó Georgin
Pat Coombs - Henrietta Salt

Direção: Mel Stuart
Produção: Stan Margulies e David L. Wolper
Roteiro: Roald Dahl, baseado em livro de Roald Dahl
Fotografia: Arthur Ibbetson
Edição: David Saxon
Figurino: Helen Colvig
Música: Walter Scharf
Direção de arte: Harper Goff
Estúdio: Warner Bros. / The Quaker Oats Company / David L. Wolper Productions
Distribuição: Warner Bros. / Paramount Pictures
Genero: Aventura

Charlie é um menino muito pobre que vive com seus quatro avós e sua mãe em uma casa caindo aos pedaços. É possível, em todos os momentos, sentir a dor da família, mas esta sempre se contrasta com a alegria e esperança de Charlie por um futuro melhor. Ele tem esperanças de trazer ao menos um pouquinho de alegria para seus familiares. Quando o grande e misterioso Willy Wonka promove um concurso que abrirá para cinco felizardos as portas de sua ainda mais misteriosa fábrica de chocolate, essa esperança acende-se mais forte do que nunca. A batalha não será fácil: sem dinheiro para comprar chocolates e procurar por um dos “tickets” premiados, Charlie é um mero espectador desse evento mundial. Seu professor (figura bizarra) caçoa dele por não ter comido centenas de barras de chocolate como todas as outras crianças - esta é a imagem da tristeza, quando começamos a sentir por Charlie e a torcer por ele.

Todos os quadros apresentando as crianças premiadas (obviamente Charlie, por sorte do destino, acabará sendo uma delas) são únicos, possuidores de um humor cruel e adulto. Embora divulgado até hoje como um filme infantil, apenas os mais crescidos, poderão desfrutar das sutilezas que o roteiro apresenta, um estilo peculiar que se demonstra bizarro e cômico ao mesmo tempo. Mas ainda nem chegamos na fábrica de chocolates! É onde o magnífico Gene Wilder entra em ação, como Willy Wonka. Com uma cena de introdução meio que improvisada (uma cambalhota inesperada e estupidamente divertida), ele mostra, à princípio, ser uma figura amistosa e muito simpática. Claro que essa impressão inicial não durará para sempre...

As coisas vão ficando mais e mais estranhas quando as crianças entram na fábrica. Contratos esquisitos com linhas ilegíveis, salas com todos os objetos cortados pela metade, tiradas inteligentes e rápidas de Wonka, ironias para com as crianças mal-educadas e seus pais irresponsáveis. O filme, num todo, é uma grande lição de moral para os pais. No final a mensagem apresentada é lindíssima e consegue fugir da pieguice, ainda mais se considerarmos a época conturbada em que o filme foi realizado. Uma mensagem que hoje seria considerada simples e muito “clichê”, mas que se encaixou como uma luva no filme.


A direção de arte é um caso à parte. Muitos a consideram simplesmente de mal gosto - isso nos dias atuais. Que nada! Ela é belíssima. Com recursos bem limitados e efeitos especiais quase que nulos, o filme ainda hoje apresenta um visual estonteante.

Não é difícil soltar a imaginação e deixar-se levar pela idéia de você ser uma daquelas cinco crianças sortudas. A cada nova sala da fábrica que o grupo de visitantes adentra existem inúmeras surpresas, algumas esquisitas, algumas divertidas, algumas bizarras, algumas com nomes estranhos, com aparência estranha, com barulhos estranhos. Fica complicado não se repetir ao afirmar que é um grande e impressionante mundo mágico.

Os Oompas Loompas - trabalhadores da fábrica - são figuras assustadoras. Anões de pele laranja e cabelos verdes que gostam de cantar canções bizarras (mas estas até hoje permanecem na minha cabeça) e fazer acrobacias. Ao lado de Willy e da direção de arte, são o coração da fábrica e do filme. Visualmente são os elementos mais inesquecíveis.


O avô de Charlie merece atenção especial. Enquanto na superfície parece ser um simpático vovô, na realidade é um sujeito esperto que não pode ser considerado de forma alguma um grande exemplo de moral. Caído na cama durante anos, assim que Charlie consegue o “ticket” premiado ele pula e festeja como uma criança faria, inescrupulosamente. Do jeito que o fez, poderia estar trabalhando e ajudando sua família. Na fábrica, ele incita Charlie a cometer um erro assim como todas as outras crianças estúpidas e burras fizeram, colocando Charlie no mesmo nível que elas, mesmo que de forma inocente. É um exemplo a ser analisado que não torna o filme inferior, apenas colocam em dúvida alguns pontos de sua moral inabalável - ou será que tal comportamento por parte do personagem é proposital? Isso significaria um nível a mais na camada de bizarrices do filme, o que de certa forma é algo muito, muito positivo.

A Fantástica Fábrica de Chocolate” é possivelmente o melhor filme infantil voltado para mentes adultas. Embora já tenha mais de três décadas de vida, apenas algumas cenas aparentam ser tecnicamente datadas. Já seus personagens não - estes serão eternos enquanto durarem. Uma obra-prima e um filme imperdível, que merece ser adquirido para ter e ver e rever muitas vezes!!!


Até a próxima!!!

Karina Gercke


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