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Escrito por John Hughes e dirigido por Howard Deutch, mesma dupla de escritor e diretor de Garota Rosa Shocking, Alguém Muito Especial ou Some Kind of Wonderful, no original, é com certeza um dos melhores filmes dos anos 80 e um dos filmes mais incríveis de todos os tempos. Mais uma vez Hughes quase atinge a perfeição, num filme extraordinário, como sempre travando uma sutil e delicada luta contra o desprezo social com que os jovens ricos, ou que fingem serem ricos, tratam os mais humildes. Essa luta social é mostrada dentro da história belíssima de dois amigos, Watts e Keith, que estudam em uma típica High School americana e enfrentam os preconceitos normais da situação em que se encontram: os pobretões no meio da high society. A trama mostra uma Watts (Mary Stuart Masterson) se descobrindo apaixonada pelo amigo, que por sua vez quer conquistar Amanda Jones (Lea Thompson) para provar para si mesmo e para os outros que é capaz de sair com a garota mais popular do colégio. Amanda, decepcionada com seu o namorado rico, prepotente e galinha, encontra em Keith (Eric Stoltz) a oportunidade de se vingar e, no fim, todos aprendem muito nessa situação; Amanda entende que não precisa deixar de ser ela mesma e que tudo vivia com o prepotente Hardy, seus amigos falsos e sonhos emprestados, não passava de uma tentativa frustrada de esconder de si mesma e do mundo as suas origens. Keith, por sua vez, consegue provar para si mesmo e para os outros que não é um zé-ninguém e mais, enfrenta seu pai mostrando para ele que cursar uma faculdade é o sonho do seu pai e não dele, e finalmente descobre que o seu futuro, simbolizado pelos brincos que comprou para Amanda, estava muito melhor acomodado nos braços da grande amiga Watts, que passa por situações não muito agradáveis para ajudar o amigo, mostrando com sua personagem que amor e amizade são sentimentos que se sustentam com a constatação da felicidade de quem se gosta. Como não poderia deixar de ser, essa comédia romântica do gênio Hughes tem cenas muito engraçadas, como a em que Watts serve de motorista para Keith e Amanda. Ao abrir a porta para Amanda sair do carro, com um sorriso dissimulado Watts fala para ela: “se partir o coração dele, quebro sua cara” e Amanda fica realmente com uma cara de quem espera levar um soco, aliás, deveria estar com o batom todo borrado nesta hora por que Watts não perdia a oportunidade de dar uma freada mais brusca ou passar de qualquer jeito por um buraco para atrapalhar um pouquinho a maquiagem da Amanda. Também é divertida a forma como Duncan e Keith se tornam amigos. Keith, vendo que Amanda ficaria suspensa ao se atrasar para chegar na escola depois de um encontro com o Hardy, dispara o alarme de incêndio e vai suspenso também, esperando passar essas horas de punição pela “delinqüência” escolar ao lado da sua queridinha Amanda. Com sua graça feminina, porém, ela convence o professor responsável pela suspensão de que não precisava ficar suspensa e Keith acaba sozinho em uma sala com os piores tipos da escola. Sua cara de desespero é muito engraçada. Ele se senta e começa a desenhar; vendo que o mal-encarado Duncan não pára de olhar para ele enquanto risca com sua faca a carteira da escola, Keith mostra timidamente seu desenho para Duncan, que não tem dúvida e arranca a tampa da carteira para mostrar seu rabisco para o colega. |
E como em toda comédia romântica do gênio Hughes, não poderiam faltar cenas sensíveis e emocionantes, como a parte em que Watts e Keith se encontram numa boate e ela fala para ele que a única coisa que não suportaria era vê-lo odiá-la e decide se afastar dele, pois um estava deixando o outro alucinados. A conversa entre Amanda e Keith na saída do múseu também é bastante tocante, pois eles abrem o jogo, constatam que estão sendo usados um pelo outro e percebem que no final das contas têm a mesma necessidade de aceitação e admiração do grupo. É interessante notar também a presença constante nos filmes de Hughes de cenas em museus de arte e a existência de personagens ligadas a arte, como em Curtindo a Vida Adoidado e Garota Rosa Shocking. A trilha sonora do filme também é uma verdadeira arte. Segundos antes da primeira cena, já se pode ouvir teclados maravilhosos _ o início de uma das músicas alternativas mais bem sucedida lá fora, a maravilhosa Abuse, versão 12" da perfeição musical Dr. Mabuse, de uma das melhores bandas de todos os tempos, Propaganda, talvez uma das únicas bandas alemãs, ao lado do Alphaville, a se aventurar pelo New Romantic. Vale a pena conferir esse sensacional clássico oitentista! Trechos: Amanda Jones: Eu prefiro estar com qualquer um pelor motivos errados do que sozinha pelos certos Watts: É melhor engolir o orgulho do que sangue Watts: (colocando os brincos de diamantes que ganhou
de Keith) O que você acha? Keith Nelson: Você não pode julgar
um livro pela capa. Girl: Nunca tinha visto uma garota usando cuecas
antes. Keith Nelson: Desculpe, desculpe, eu peguei tão
pesado com você. Amanda Jones: Eu odeio me sentir envergonhada. Eu odeio o lugar de onde eu venho. Eu odeio ver meus amigos terem tudo o que desejam. Eu me entreguei a essa raiva e me tornei o que acreditava que pudesse ser. Eu não tinha que fazer isso. Você não tem que fazer isso. Ray: Então, você vai ter que esperar
por uma hora? Duncan: Nós vamos elevar o nível dessa festa a um patamar gostoso e respeitável. Não se preocupe. Não vamos machucar ninguém. Não vamos sequer encostar neles. Nós só vamos fazê-los chorar, simplesmente olhando para eles. -- |
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