De tempos em tempos, seja por jogada de marketing ou por afinidade artística, os músicos nos brindam com parcerias épicas e inesquecíveis. Dentre os nomes que reinaram nos anos 80, tivemos diversos exemplos, como "Under Pressure" com Queen e David Bowie, "Candy" que uniu Iggy Pop e Kate Pierson, em 1983 o espetacular encontro de gerações com os duetos de Michael Jackson e Paul McCartney, ou mesmo a parceria de "peso" entre os "Bad Guys" do Motörhead e as meninas do Girlschool, que resultou na divertida canção "Please Don't Touch".
O mais convencional eram essas parceiras unirem artistas de vertentes musicais similares, mas neste quesito, "World Destruction" de 1984, fugiu totalmente à regra, sendo gravada por duas figuras totalmente distintas.
De um lado, Afrika Bambaataa, nome artístico do cantor e compositor americano Lance Taylor, que Além de ter inovado os paradigmas da musica electro, também é reconhecido como sendo o pai do Hip Hop, ele foi o primeiro a utilizar o termo e dar as bases técnicas e artísticas para o gênero, formando assim uma nova cultura que se expandiu nos bairros negros e latinos da cidade de Nova Iorque e que congregava DJs, MCs, Writers (grafiteiros), B.boys e B.Girls (dançarinos de Breaking).
Completando a dupla, o cantor britânico John Lydon, da banda pós-punk PIL (Public Image Ltd). Ele que nos anos 70 era conhecido como "Johnny Rotten" (algo como “ Joãozinho podre” em português) e vociferava contra a família real britânica e o "sistema" nos microfones da banda punk Sex Pistols.
Em 1984, Afrika Bambaataa iniciou um projeto organizado pelo produtor/baixista Bill Laswell, chamado Time Zone, em que Bambaataa viria a trabalhar em parceria com outros músicos, Logo o nome de John Lydon veio em mente, ambos os cantores já haviam demonstrado respeito mútuo.
Afrika Bambaataa: "Eu estava conversando com Bill Laswell, dizendo que eu precisava de alguém que fosse realmente louco, e ele pensou em John Lydon. Eu sabia que ele era perfeito porque eu tinha visto o filme que ele tinha feito (Copkiller de 1983, onde John mostrou que também sabia atuar), e também conhecia tudo do sex pistols e do PIL, então nós nos reunimos e fizemos World Destruction em duas versões insanas e esmagadoras, uma delas ele xingou a rainha, algo terrível , que nunca foi lançado."
John Lydon: "Nós colocamos uma batida de tambor na máquina e fizemos a coisa toda em cerca de quatro horas e meia. Foi muito, muito rápido."
Assim nasceu o single "World Destruction", que acabou soando como um Rap Rock com pitadas de electro. Os músicos Bernie Worrell, Nicky Skopelitis e Aïyb Dieng também participaram das gravações.
O single foi lançado pela Celluloid Records em 1º de dezembro de 1984, e atingiu o pico de #44 no top do Reino Unido em fevereiro de 1985.
O vídeo clipe também teve ampla divulgação e foi produzido de forma a ilustrar bem a agressividade da canção, bem como sua temática apocalíptica.
Confinado em um apartamento, e perseguido por uma cinegrafista, John Lydon aparece vestido com um jaleco branco. Ele acompanha as notícias na televisão, que exibe declarações do então presidente norte americano Ronald Reagan, várias cenas de guerra e destruição, além de outros lideres da época como a primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher. Vendo essas imagens, logo John fica todo sujo de sangue.
Outras tomadas mostram Afrika Bambaata sendo conduzido no banco de trás de um carro de luxo que circula por regiões urbanas e por onde ele passa, as pessoas o seguem cantando e dançando. Na reta final do vídeo, Bambaataa aparece com um visual vampiresco, em uma espécie de Bunker sombrio com livros, velas vermelhas e decoração medieval, onde ele também pode acompanhar por um monitor, as mesmas imagens vistas por Lydon no apartamento. Ainda no Bunker, a cena é complementada com vários dançarinos de break.
O encerramento triunfal ficou por conta de John, no maior estilo "Johnny Rotten", passando batom nos lábios e beijando a boca de Ronald Reagan pela tela da TV.
Certamente este clássico foi a grande inspiração para a parceria entre Aerosmith e Run-DMC, quando regravaram Walk This Way dois anos depois.
E sábado é dia de curtir clipes inesquecíveis dos anos 80, como World Destruction e dançar muito na pista mais concorrida de São Paulo, é claro. Até lá!
Nos vemos lá!