The Great Commandment
Mais um video clipe engajado dos anos 80, da excepcional
banda technopop Camouflage (nome da
banda tirado de uma música do Yellow Magic Orchestra), dirigido
por Rainer Thieding. Este clipe teve 3 versões: a primeira
uma demo version, em preto e branco, num clima mais animado, apenas dançando
(veja
um trecho), um clipe simples que foi tirado de circulação
pela gravadora. Ganhou uma segunda versão, que chegou a ser transmitida
poucas vezes, apenas pela TV a Cabo, mas ainda não era a cara da
banda. Com o sucesso do lançamento do single 12", a gravadora
deu a liberdade para a banda fazer o que podemos chamar de versão
definitiva (trecho).
Toda feita em sépia, puxado um pouco para tons verdes, é
uma verdadeira obra de arte. Rainer, que também dirigiu a Belinda
Carlisle (vocalista das Go-Go's) em sua carreira solo, além
de ótimos trabalhos com o Re-Flex. Após o estrondoso sucesso
deste clipe com o Camouflage, Rainer obteve grande reconhecimento em sua
carreira e passou a ser convidado a dirigir várias bandas na Alemanha,
como o X-Mal Deutschland, e por toda a Europa, chegando a dirigir
até mesmo Elton John.
O Camouflage mostra uma cara ativista não apenas
em Great Commandment, mas também em várias outras letras
da carreira como em Stranger Thoughts, "I can't understand why
should this happen here, we should accept and learn how to live together"
"Não consigo compreender porque isto tem que acontecer aqui,
deveríamos aceitar e aprender a viver juntos",
que lembra a letra de People are People também, da melhor fase
do Depeche Mode (81-85) e que mais influenciou o Camouflage, não
apenas musicalmente, mas também nas letras politizadas, numa verdadeira
cruzada de bandas como Depeche Mode, OMD, Camouflage, Heaven 17 e Alphaville,
representando um pensamento de esquerda em contraponto a muitas 'bandas'
da época que eram notoriamente fascistas. O Depeche, Camouflage,
Alphaville vieram para mostrar que a música eletrônica oitentista
tinha muito a dizer e principalmente lutar contra todas as formas de opressão.
Essa luta é o que mais aparece no clipe de The Great Commandment.
Fenomenal estréia da banda, chegando ao quinto lugar das paradas
em seu primeiro trabalho, assim como o A-ha conseguiu com a música
e clipe de Take on Me, também inspirado na época pela banda
do gênio Tony Mansfield, o New Musik, de onde o Camouflage tirou
o nome de sua primeira demo (From Ay to Bee) e fez um cover maravilhoso
no segundo álbum.
Como se fosse uma continuação do clipe
de People Are People do Depeche, este é mais um apelo
contra a opressão, a guerra e dominações em geral.
Por ser na Alemanha, a música é uma metáfora à
dominação que os grandes comandantes exercem e exerceram
sobre as pessoas, submetendo-as às suas vontades, através
do medo e de ameaças. Logo no começo aparcem cenas de prédios
antigos da Alemanha no pós guerra, onde um ditador, gritando um
discurso em italiano (realmente a ligação com nazi-fascismo
fica mais expressa) oprime as crianças e tenta incutir ideais neo-nazistas.
Um dos tecladistas da banda, Oliver, ao entrar no prédio,
entrega um panfleto para Marcus Meyn em que se lê "Beware!
Some people oppress you", "Tome cuidado! Algumas pessoas te
oprimem", e o genial vocalista Marcus analisa o panfleto e começa
a cantar a letra da song enquanto Oliver começa a distribuir os
panfletos para as crianças que estão sendo dominadas pelo
comandante italiano.
Sem
nenhuma intrusão direta, numa linha marxista "a emancipação
dos trabalhadores será obra dos PRÓPRIOS trabalhadores",
a banda começa a mostrar que as crianças podem elas mesmas
se libertar do opressor. Um guardião do poder fica entre as crianças
fiscalizando-as e quando um garoto pega um panfleto, ele retira a criança
de perto e a leva de volta para o meio das crianças. Logo depois,
Heiko Maile, sintetizadores e samples da banda, chega num carro
e começa a ajudar Oliver a distribuir o texto para as crianças.
Uma garota, Anne, que também participou de outros clipes de Rainer,
entrega uma bola para Marcus, que sente que este pode ser o momento de
ajudá-los. Propositadamente joga a bola de uma forma com que caísse
numa sala pequena onde estão todos os controles do opressor, cheia
de botões e 'luzinhas', para apertar e brincar. Ao entrar para
pegar a bola, Anne começa a apertar os botões e cada botão
escolhido causa um movimento desengonçado no ditador (que nada
mais era do que um robô de palha com controles eletrônicos).
As crianças então começam a rir e realmente se libertam
ao ver os movimentos errados do opressor, enquanto Anne se diverte apertando
os botões.
Através de sequências o comandante fica totalmente desgovernado,
e cai em crise fatal. Anne sai da mini-sala de controle e sobe no colo
do Marcus. Um dos clipes mais maravilhosos da história da música.
Muita Luz!!!
Marcos Vicente |