Imagine, caro leitor, num desses dias quaisquer que você está esquadrinhando a internet em busca de novas músicas ou bandas para serem incorporadas no seu repertório, eis que você se depara com um vídeo clipe de 1983, chamado “Jeopardy”, da “Greg Khin Band” e, desavisado, põe-se a apreciar essa obra audiovisual.
Inicialmente somos apresentados a tomadas de planos abertos, que registram um ambiente bem iluminado... Uma bela igreja, matizada por uma tonalidade marfim impecável, da qual se aproxima uma elegante limusine, pronta para trasladar os nubentes mais apaixonados. As cores predominantes na locação são sóbrios e charmosos tons pastéis, e tudo se harmoniza perfeitamente aos rítmicos e melodiosos acordes do baixo de Robert Berry. Neste momento, você até pode imaginar que tudo o que está por vir no clipe resumir-se-á aos bons, velhos, açucarados e cafonas clichês românticos que estão por toda a parte. Diante do que foi mostrado, é compreensível pré-concebermos essa ideia, mas não desista ainda, pois muitas vezes, as aparências enganam...
Adentramos então à igreja e logo somos apresentados ao distinto noivo; ao seu redor os convidados, as damas de honra, o coral e tudo mais que você ou eu esperaríamos contemplar num casamento que se preze. O noivo, no entanto, deixa transparecer certo nervosismo, verdade seja dita... Mas tudo bem, afinal ele vai se casar, não é? Não seria humano se não ficasse apreensivo. Tudo perfeitamente normal ainda (?).
Enfim, quando chegamos ao altar, notamos que, mesmo já diante de sua bela pretendente e mesmo envolto nos olhares de aprovação dos simpáticos convidados, o rapaz ainda está desconfortável. Talvez para aliviar a tensão, o futuro recém-casado começa a passear o seu olhar pelo salão, quando então avista um casal muito fofo de velhinhos com as mãos dadas, entretanto, um olhar mais atento é o bastante para que toda a fofura da vovó e do vovô vão por água abaixo, pois suas mãos estão unidas, na realidade, por algemas! Confuso, o noivo desvia o olhar e foca-se no sacerdote celebrando a cerimônia, mas ao invés de encontrar algum alento, ele se depara com o respeitável clero gesticulando algo que pode ter mais de uma interpretação: ou o padre se empenhava numa mímica, gesticulando e ilustrando com as mãos o ato de se colocar e tirar o anel do dedo, várias e várias vezes, de um modo desconfortavelmente frenético; ou então o seu gesto seria uma alusão direta a... Bom, aí vai de acordo com o nível de poluição mental de cada um.
Sem mais delongas, chegamos então ao momento mais aguardado! O noivo põe finalmente a aliança no dedo da noiva, a câmera fecha no rosto da garota e contemplamos com riqueza de detalhes o rapaz, recém-casado, retirar o seu véu para selar o compromisso com um apaixonado beijo de amor. O close nos permite perceber claramente como a noiva é jovem e bonita! Como ela está feliz! Como tudo são flores... Mas não... pouquíssimos segundos depois desse romance todo, a moça tem o seu rosto, jovem e sem uma única espinha, transmutado em uma carranca saída direto dos “Contos da Cripta”!
A partir desse momento, a nossa paciência por prestigiar o clipe até agora é recompensada! Imediatamente após a “mudança estética” da noiva, o cenário todo se transfigura. Uns flashes de luz, perfeitamente sincronizados com a cadência da música (sobretudo com a bateria de David Danza), pontuam perfeitamente essa modificação. As tomadas mais longas e fluidas de agora há pouco cedem lugar a cenas mais agitadas, emolduradas por cortes secos e bem mais frenéticos. A iluminação acolhedora de pouco tempo atrás desaparece e a escuridão inunda o cenário, contrastando apenas com nefastas luzes muito saturadas. A pacata paróquia agora é um lugar que parece ter saído de um pesadelo! Até os inofensivos convidados, coitados, se transformam em asquerosos zumbis.
Antes que o noivo – ou ex-noivo – tenha tempo suficiente para assimilar o que está acontecendo e como lidar com essa situação que, num piscar de olhos, viu-se inserido, subitamente abre-se uma cratera no assoalho da igreja e dela brota uma criatura nefasta. Não sei se é uma planta carnívora, ou um tiranossauro-rex mutante com tentáculos repugnantes, mas os efeitos visuais práticos que a construíram merecem o selo John Carpenter de aprovação. Sem perder tempo em demonstrar seu coração cheio de maldade, a criatura envolve o nosso protagonista com seus tentáculos e tenta arrastá-lo para dentro do buraco de onde saíra, então, para se defender, o moço se agarra em um dos bancos da igreja. Mas o que ele não esperava é que a peça do mobiliário fosse de segunda mão ou talvez estivesse infestada de cupins, pois a parte onde ele se segurou quebra igual a um palito de picolé. Quando não há mais esperança e tudo parece perdido, o nosso herói percebe que a parte de madeira quebrada do banco que permaneceu em suas mãos talvez não estivesse com cupins e pudesse ser usada como arma! E é o que ele faz: golpeia e derrota o bicho!
Depois de mais alguns momentos de tensão, o moço consegue desvencilhar-se dos zumbis e dos outros seres from hell quando, para sua alegria, sai finalmente da igreja infestada de coisas ruins. Já do lado de fora, pasmem: tudo volta ao normal! As cenas iluminadas novamente, os convidados voltam a ser pessoas distintas e simpáticas (pessoas “humanas”, antes de qualquer coisa), tudo numa boa. Tudo muito semelhante às cenas do clipe que vimos no começo, com uma pequena diferença, as imagens agora adquirem uma textura granulada e envelhecida, como que registradas por uma velha “Super 8”. Essa mudança sutil se justifica quando o plano vai se abrindo progressivamente e percebemos que tudo isso estava sendo projetado numa parede através de um velho projetor? E quem as assistia? Um casal de caveirinhas vestidas de noivos.
Poderia acabar por aí, não é? Não! Porque o melhor vem agora – alerta de plot twist – pois o clipe retorna para dentro da igreja e lá está o noivo todo nervoso que vimos no início do vídeo! Tudo não passava de um sonho, afinal! (?) E nesse constatamos que o nosso querido herói é adepto da máxima “errar é humano, mas persistir no erro é burrice”, porque sem perder tempo ele passa a mão na sua champanhe e vai para o seu conversível dar o fora dali antes que o galo (ou zumbi) cante. Quando ele está para ir embora, avista do outro lado da rua a sua noiva, jogando seu véu e sua grinalda no chão e pisando em cima, mas depois de algumas relutâncias e alguns sorrisinhos charmosos, ela entra no carro com seu ex-futuro-marido e ambos seguem o horizonte ensolarado para viverem seu amor livremente.
Independentemente da sua opinião sobre o quanto os casamentos podem se assustadores, se você gosta de boa música e sabe apreciar aquela estética deliciosa dos filmes trash que tanto nos encantaram nas décadas de 70 e 80, “Jeopardy” da “Greg khin Band”, é um clipe indispensável no telão para embalar a sua festa de Halloween!
E sábado é dia de curtir todos esses clipes inesquecíveis dos anos 80 e dançar muito na pista mais concorrida de São Paulo! BLACK WEEK Autobahn: atendendo aos pedidos a maior promoção do ano continua neste sábado no Autobahn!
E o melhor, A PRIMEIRA CERVEJA É POR CONTA DA CASA!
Ao chegar na festa você já ganha a cerveja na faixa!
Até lá!