Hall of Mirrors
Os Melhores Video-Clipes dos anos 80

Heaven 17 - Let Me Go

Em 1980, o Human League, primeira banda de synthpop da Inglaterra, se dividiu. De um lado ficou Phillip Oakey, vocalista da banda, e de outro Ian Marsh e Martin Ware, que formaram o Heaven 17. A separação se deu numa fase em que a Virgin Records pressionava o Human League para ser mais pop e o som que a banda fazia era totalmente inédito na Inglaterra, experiental, com dois sintetizadores, vários teclados e projeções de slides de filmes como Laranja Mecânica no telão dos shows. Algo totalmente impactante para a época. Como os fundadores da banda Martin Ware e Ian Marsh não concordaram, deixaram a banda e o contrato com a Virgin, deixando o nome da banda com o Phil Oakey, enquanto formaram sua própria gravadora para ter mais independência e liberdade. Ali nascia o Heaven 17, o filho não famoso do Human League, mas com uma consistência musical muito forte. Além de formar o Heaven 17, criaram a British Electric Foundation (BEF), uma banda mais alternativa ainda para pesquisar as influências das ondas sonoras nas reações humanas, além de desenvolver novos timbres de sintetizadores e teclados. O Human League e o Heaven 17, ao lado de bandas como o Ultravox, também pioneira nos sintetizadores na terra da Rainha, foram as maiores fontes de influência para dezenas de outras bandas como Depeche Mode, New Order, Soft Cell, Pet Shop Boys, Erasure, etc. O Heaven 17 se tornou sinônimo de synthpop independente, alternativo e engajado, batendo de frente com o pessoal com os carecas e pseudo-fascistas de então. Suas letras batiam forte em algumas pessoas descabeçadas que ouviam música eletrônica e ainda tinham referência nos fascistas. Corajosos e experimentais se tornaram a maior referência em música eletrônica alternativa depois do Kraftwerk. Após essa necessária apresentação, afinal o Autobahn não toca só as músicas previsíveis, vamos ao clipe!

Assim como a letra, o clipe de “Let Me Go” é bem elaborado e muito bom!

O clipe parece se passar na década de 40 e começa mostrando os integrantes do grupo andando pelas ruas. A cidade parece estar completamente deserta. O relógio da rua está parado, os faróis não funcionam, há carros abandonados e lixo por toda a parte. A cidade está devastada, como se algo trágico tivesse acontecido e todos tivessem fugido. De repente Glenn Gregory se vê completamente sozinho, os outros dois sumiram.

Desolado, ele começa a correr como se quisesse fugir daquela situação. Ele se encontra no meio de uma multidão que parece hipnotizada, sem nenhuma reação. Tenta sair dali mas não consegue, há tanta gente que não consegue passar. Até que no final ele se encontra sozinho novamente, com a expressão de quem percebe que as coisas mudaram e que nada será igual, que não há nada que possa fazer para trazer o passado e os bons tempos de volta.

As imagens da cidade vazia e abandonada realmente me passam essa impressão de passado, de algo que ficou para traz. E acho que Gregory conseguiu passar essa angustia causada pela sensação de impotência que temos quando percebemos que os tempos mudam, pois nada podemos fazer para parar isso ou para trazer de volta pessoas ou situações que gostamos.
Não que as mudanças sejam ruins, pois não são. Mas por causa delas, às vezes temos que abrir mão de certas coisas que gostamos.

Natascha Coelho




s