Kraftwerk - The Model
Sem dúvida, podemos afirmar que o grupo alemão Kraftwerk foi o precursor do estilo techno e eletrônico que surgiu na década de 70, com suas composições executadas através de sintetizadores e voz humana alterada por computadores, tornando este estilo musical mais facilmente acessível e aceitável pelas massas.
Tal estilo, inovador e pioneiro, passou a ser conhecido como synthpop na década seguinte, influenciando fortemente outros artistas e grupos nos anos 80, como Gary Numan, Devo, Human League, Depeche Mode, Soft Cell, Talk Talk, Howard Jones, etc. e continua sendo referência para música eletrônica e dance music contemporânea. Há quase 3 décadas atrás, a música eletrônica não era valorizada como deveria, porém, atualmente, é considerada uma das partes fundamentais da cultura pop.
É incrível o quão à frente de sua época se posicionava musicalmente o Kraftwerk no início da década de 70, com sua combinação única, mesclando ritmos repetitivos com melodias empolgantes. O som do Kraftwerk era revolucionário para seu tempo e impactou diretamente no surgimento de toda uma geração synthpop e new romantic nos anos seguintes.
A canção “The Model” teve seu single lançado em 1978, chegando ao 1º lugar nas paradas de sucesso no Reino Unido. É a quarta faixa do álbum “The Man Machine”, de 1978. Muitos consideram “The Model” como a mais comercial canção lançada até hoje pelo Kraftwerk. A melodia é extremamente cativante, vibrante, viciante, na qual se ouve a voz humana normal, não robótica, frases completas e não apenas palavras soltas. Os solos de teclado são realmente fantásticos. A letra, composta de versos e rimas, é sarcástica, falando de uma modelo mimada, cheia de caprichos, voluntariosa e materialista, cuja beleza e charme lhe proporcionaram fama e popularidade. Foi a partir da chegada de The Model ao topo da parada britânica, que nasceu o movimento New Romantic inglês, clipes como I Ran do A Flock of Seagulls, são um reconhecimento aos pais dos anos 80 e do movimento New Romantic, que nasceu de uma mistura de Kraftwerk e David Bowie, a chegada de The Model ao topo da parada, é o marco divisor de águas da música dos anos 70 e o começo virtual da sonoridade dos anos 80.
No videoclipe da canção “The Model”, podemos visualizar modelos como a da letra, que valorizam demasiadamente a beleza externa, se preocupam com o visual e se esquecem dos sentimentos humanos. O clipe mostra e destaca a modelo atraente que conquistou o coração do Ralf Hutter, desfilando ao lado de outras modelos, mostrando sua simpatia virando a cabeça e sorrindo a cada pose, a cada clique das diversas cameras, chamando a atenção de todos os homens com seu charme e se sobressaindo dentre as demais modelos. Após o desfile elas tomam champagne e até nisso mostram charme e elegância únicos, mesclando com cenas do Kraftwerk tocando, muito visto mais tarde em videoclipes dos New Romantics. Depois do sucesso ainda maior ela as capas das revistas, e o Ralf canta que sonha em encontrar ela de novo, mesmo tema seguido pelo Thomas Dolby em Europa and the Pirate Twins já na fase technopop-new romantic. Na década de 80, a música foi muito ligada à moda, e o Kraftwerk em 78, já antevia e preparava o terreno, tanto na música quanto no comportamento, como seria a década de 80.
O clipe começa com o Kraftwerk tocando em seu Kling Klang, o mais avançado estudo da época, na verdade um estúdio móvel, que eles levavam para os shows, dada a exclusividade dos seus instrumentos, todos super avançados, entre as cenas, aparecem eles tocando se intercalando com cenas de modelos dos anos 50 e 60.
O aspecto glamouroso e de extrema valorização do visual retrata a atitude adotada pelos membros das bandas new romantic da década de 80. Estes, sempre muito antenados com a moda, lançavam tendências, que rapidamente eram copiadas por seguidores e admiradores.
O Kraftwerk, em “The Model”, faz uma analogia direta à esta característica muito presente, própria e intensa nas bandas new romantic dos anos 80. Até neste sentido, o Kraftwerk conseguiu ser inovador, pois as bandas que surgiram nos anos seguintes, não apenas se concentravam em compor ótimas músicas utilizando os sintetizadores como base, mas também se preocupavam com o visual, sempre arrojado, elegante, criativo, sofisticado e, muitas vezes, exagerado. Uma real ostentação ao glamour, ao luxo e por que não mencionar, à superficialidade...
O modelo de atitude adotado pelas bandas new romantic nos anos 80, seguidoras da idéia Kraftwerkiana em The Model, (Duran Duran, Visage, Spandau Ballet, A Flock of Seagulls, entre outros), superficial ou não, cativou admiradores que as cultuam até os dias de hoje.
O Kraftwerk é considerado o “Pai” da música eletrônica e cibernética e suas músicas são capazes de promover uma verdadeira viagem da mente humana.
Malú Ignácio |