Continuando com mais um videoclipe superpremiado nos
anos 80. Lançado em 1983 pelo New Order, foi indicado em 1988 como
melhor vídeo do ano pelo Brit Awards, na Inglaterra e ganhou o
mais importante prêmio da indústria fonográfica: melhor
videoclipe no BPI (British Phonographic Industry), o que foi uma revolução,
uma banda independente papando o maior prêmio da indústria
fonográfica. O New Order batia mais recorde.
O videoclipe trata-se de um balé quase surrealista do genial
diretor Phillip Decouffle, começa com duas criaturas trocando tapas no ritmo da música, numa sincronia perfeita, e raramente vista em
videoclipe na época. Uma tela surge frontal em toda a vista de um dos personagens, com cenas da banda fazendo uma performance ao vivo. Outros
personagens surgem pulando pela calçada, como se fosse num balé teatral, misturando arte e surrealismo. Um outro, brinca com figuras geométricas,
como na formação de quem tem problemas com coordenação motora, peças que ficam guardadas em um bolso perto do coração,
sozinho, vestido de vermelho com a tela com imagens da banda voltada para o seu rosto, numa espécie de cabresto frontal, acoplada a um estranho
chapéu, a quem é negada a visão do mundo, vê apenas através de uma tela que toma quase a totalidade da sua visão,
o que atrapalha sua capacidade de escolha e/ou decisão. O clipe se estende numa brincadeira, numa coreografia circense realizada por personagens
vestidos como palhaços, num figurino bem colorido. Eles pulam, dançam, caem e levantam brincam de brigar e terminam por causar certa estranheza,
uma sensação de viagem, ou até de mergulho em um mundo distante, um mundo só deles. É como se por um momento percebêssemos
aqueles personagens com integrantes de outra realidade, como que fazendo parte de um mundo que existe em algum lugar, um universo paralelo talvez.
True Faith traz algo novo em videoclipes: uma pessoa traduzindo a música
em linguagem de sinais. Se tornou o primeiro videoclipe musical democrático, permitindo também que os surdos pudessem entender sua mensagem.
Lindo, maravilhoso. É o que se destaca no vídeo com muita força, perceber a idéia de fazer algo diferente, de levar uma
mensagem, de deixar fluir uma beleza, uma delicadeza em meio às brincadeiras dos personagens. Maravilhoso. Como uma homenagem aos portadores
de alguma deficiência, que dependem muito de sua fé real para, mesmo sem saber a solução, procurar uma porta para o futuro,
um futuro melhor, uma esperança pelo sol da manhã, como fala a letra da música.
Um dos clipes mais belos dos anos 80, por essa mensagem, os movimentos
de altistas, um mundo paralelo, surdo-mudos. Mais uma vez o New Order
prova que música é arte. E nem todo clipe pode ser explicado.
Os clipes do New Order, assim como a poesia, não devem ser explicados,
apenas sentidos, sempre carregados de arte acima da mensagem direta, como
nas capas fenomenais de seus discos, feitas por Peter Saville. Escolhendo
gênios para dirigir também seus clipes. Além de Phillip
Decouffle em True Faith, eles convidaram diretores como Jonathan Demme
(Silêncio dos Inocentes) para fazer Perfect Kiss, talvez dali tinha
surgido o gosto musical maravilhoso de Demme que recheou seus filmes com
bandas technopop como Book of Love e Q Lazzarus. A arte acima da imagem
do grupo.
Muita Luz!!!
Andréa Patrícia e Marcos Vicente
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