Com
certeza esse é um tema que não
pode deixar de ser abordado, afinal de contas
quem não gosta de relembrar os tempos
de balada com os amigos?
Falamos de
várias das grandes casas noturnas
da década de 80 nas edições
anteriores, mas não paramos por aí.
Já no clima da Dark Night que rola
sábado no Autobahn, vamos relembrar
algumas das casas underground da época
que continuaram o sucesso que estourou em
86 e 87 em todas as casas de São
Paulo, da Contramão no Tatuapé
ao Rhapsody em Osasco, Cure, Smiths dominaram
as pistas de dança, mas com o advento
do Acid House, apenas 4 ou 5 casas da cidade
se mantiveram no estilo. É delas
que vamos relembrar nesta semana de Dark
Night na pista mais concorrida de SP.
Rose
Bombom - Uma das casas mais famosas de São
Paulo no início da década
de 80 ficava na Rua Oscar Freire, 720, point
das madames de SP de dia, e do público
alternativo de noite. Com o chão
quadriculado igual a um tabuleiro de xadrez,
no Rose Bombom rolava de tudo um pouco.
Desde New Wave até Synthpop, Punk
e mais tarde Acid House. Abriu em 83, na
Rua Oscar Freire, ao som de muito B-52's
e Devo em 83, 84, seguindo o boom do rock
nacional em 85 depois pegou a onda dark,
com muito Cure, Smiths, Siouxsie e Bolshoi
em 86, Synthpop do New Order, OMD e Depeche
Mode em 87 e 88 e Acid House em 89.
No
início dos anos 2000 a casa voltou
a funcionar na cobertura da Galeria Ouro
Fino, na Rua Augusta. Mas, apesar de continuar
com o mesmo nome infelizmente não
rolava mais anos 80, e sim black. Houve
apenas um especial anos 80, no qual eu tive
a oportunidade de conferir. Até que
foi legal! Mas a festa ficou na Galeria
Ouro Fino por pouco tempo, pois o CONTRU
considerou que não havia segurança
e que o espaço não tinha a
estrutura necessária. Portanto a
casa mudou novamente de endereço
e hoje em dia funciona na Vila Madalena.
Mas infelizmente não é nem
sombra do que já foi.
Espaço Retrô – Situado
no Largo da Santa Cecilia, o Espaço
Retrô tinha um ambiente bem underground.
A casa durou de 1988 a 1992, influenciando
todas as casas alternativas da época.
Eram 2 andares, no térreo só
videoclipes, Soft Cell era o que mais passava,
com o inesquecível VHS "Non
Stop Erotic Videos", que trazia os
clipes da dupla do álbum Non Stop
Erotic Cabaret, de 81. Também
era possível assistir no telão
shows inteiros do Sisters of Mercy, New
Order, Depeche Mode, Front 242, Siouxsie
and the Banshees. Na pista quadriculada
no porão, o que mais empolgava o
público era o EBM belga de maravilhas
dos 80 como Front 242, Split Second e Poesie
Noire, mas também havia espaço
para o EBM inglês do Nitzer Ebb e
o industrial alemão do Einsturzende
Neubauten. Ainda haviam seleções
mais carregadas de gothic rock principalmente
em 1988, a partir de 89 o EBM chegou para
ficar na pista do Retrô. A partir
de 95 a casa reabriu, desta vez na Rua Fortunato,
também na Santa Cecília, desta
vez variando de acordo com o dia da semana,
que podia ser EBM, Britpop, gótico,
punk e mais tarde anos 80, quando passou
a abrigar o Autobahn, convidado pelo proprietário
da casa o Autobahn para rolar na casa toda
semana. É muito gostoso relembrar
essa fase, principalmente porque foi um
importante momento da história do
Autobahn, era difícil encontrar espaço
para tocar anos 80 em SP, quando a década
tinha acabado há tão pouco
tempo, e fazer festa anos 80, não
era moda, era uma aventura, quase uma loucura
para muitos donos das casas noturnas, mas
que com o tempo foram se acostumando devido
ao sucesso da festa. E justamente por ter
um som variado, a casa era freqüentada
por integrantes de bandas como Inocentes
e Ratos de Porão ou até mesmo
por modelos como Marina Dias. Às
vezes essa mistura de estilos causava alguns
problemas, como por exemplo, quando os skins
ficavam esperando do lado de fora para bater
nos góticos (como acontecia ainda
no primeiro Retrô em 1991. Mas no
geral, todos conviviam bem.
Mais
tarde, o Retrô, juntamente com o Hells,
foi uma das primeiras casas a lançar
o que conhecemos como Techno e Jungle, fazendo
surgir assim os “clubbers”.
A casa funcionou até o final dos
anos 90, e o Autobahn mudava mais uma vez
de endereço...
Madame
Satã - Um casarão bem antigo
e detonado no coração da cidade,
na Rua Conselheiro Ramalho, 873. Com iluminação
à luz de velas, ambiente bem sombrio,
público bem variado e o melhor do
gótico! Essa era com certeza a casa
mais lendária da noite paulistana
na década de 80! Quem quisesse ouvir
o melhor do alternativo da época
com certeza não tinha lugar melhor
do que o Madame Satã. E com certeza
era todo esse clima inusitado que tornava
a casa ainda mais interessante, rs. A seleção
de músicas era indiscutivelmente
a melhor! Não é à toa
que seus ex-frequentadores ainda têm
a esperança de que a casa reabra
algum dia. Em 86 e 87 o Madame era a primeira
casa de SP a tocar Acid House, lançou
bandas importantes por aqui, Housemasters
Boys e Marrs, com hits que mais tarde iriam
dominar as pistas da cidade, o Madame por
tradição, tocava todos os
lançamentos mais ousados da época
e o Acid House não era diferente,
afinal House Nation era uma música
inteira feita em cima de um único
sample de voz, mais experimental e alternativo
que isso não existia na época,
o Marrs, vinha da mesma gravadora que X-mal
Deutschland e Cocteau Twins, a 4AD e o Acid
House era o movimento mais underground do
mundo na época, mas depois que as
casas mais famosas começaram a tocar
também o House, o Madame parou de
tocar lançamentos e passou a reviver
sua própria história, focando
mais nas bandas que mais fizeram sucesso
no meio alternativo synthpop e gótico,
como New Order, Depeche Mode, Smiths, Cure,
Front 242, Fields of Nephilim, Dead Can
Dance e Sisters of Mercy, entre outras que
entraram para a história. O Madame
também foi responsável por
lançar bandas como Ira, RPM e Ultraje
a Rigor, Zero, que começaram seus
primeiros shows por ali em 83, 84, antes
de ganharem o estrelato nacional.
Ácido Plástico - Casa alternativa
ao lado do Carandiru (mais precisamente
na Rua Urupiara, 432), foi marcada por tocar
bastante punk, post punk, gothic rock e
synthpop. As bandas mais tocadas no telão
eram New Order, Echo & the Bunnymen,
PIL, Sex Pistols, The Clash, Siouxsie &
the Banshees, Dead Kennedy's, Toy Dolls
e claro muitos shows de rock de bandas brasileiras
do underground paulistano como Violeta de
Outono, Varsovia, Fellini, Muzak e até
bandas semi-anonimas na época que
vinham de outros estados se apresentar em
SP e que depois fizeram grande sucesso como
o Engenheiros do Hawaii e Replicantes. A
casa é muito lembrada até
hoje por ser uma das primeiras a fazer o
revival anos 50 e 60 em São Paulo,
com as inesquecíveis matinês
Rock-a-Billy.
Treibhaus
- Origem do nome da atual casa onde o Autobahn
acontece semanalmente. A Treibhaus (lê-se
"Traibhaus" em alemão -
como em Tribehouse), ficava na Alameda Jaú,
1774, e reunia os mais diversos fãs
de gothic rock e EBM de toda a grande São
Paulo, no auge do sucesso do EBM e Synthpop
no Brasil. A casa abriu pegando pesado nos
sintetizadores, tendo também algumas
de suas noites dedicadas inteiramente ao
gothic rock e Ethereal. Não era incomum
começar a noite ouvindo um Dead Can
Dance ou Cocteau Twins, esquentar com Ultravox,
Soft Cell e Kraftwerk e se acabar na pista
com Nitzer Ebb, Front 242 e Skinny Puppy.
Ao lado, um flyer da inesquecível
noite de despedida da Treibaus, como o próprio
flyer dizia "our sadest party"...
nada mais depressivo para uma noite gótica,
flyers que guardo há mais de 20 anos,
sem dúvida, casas inesquecíveis.
É uma pena que essas casas não
existam mais, mas ainda bem que temos o
Autobahn para nos trazer essa sensação
de nostalgia nos fazendo relembrar os bons
tempos! Ainda faltam muitas casas que fizeram
sucesso no meio alternativo da época,
entre elas o Cais (que também foi
sede do Autobahn em 1993), Anny 44, Lira
Paulistana, Carbono 14, Zoster, Hong Kong
e que aos poucos serão revividas
nestas páginas da história
dos anos 80!
Sábado é dia de matar saudade
de todos esses tempos na pista mais concorrida
de SP, afinal balada miada ninguém
merece... rs
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