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Assim como o Kraftwerk tem essencial importância no cenário da música eletrônica - sempre sendo citado por vários grupos dos anos 80 como uma de suas principais influências, o músico inglês Mike Oldfield teve uma grande importância no que viria a ser o cenário da música ambient/new age que surgiria nos anos 70, ficando popular nos anos 80 em diante. Considerado por muitos um garoto prodígio, visto que tinha começado a carreira musical muito cedo, sendo que aos 10 anos já tocava em clubes de folk em sua cidade natal (Reading – famosa pelo festival de mesmo nome), aos 15 formou o duo Sallyangie juntamente com sua irmã Sally Oldfield (que posteriormente ficou conhecida pela música Mirrors), e aos 16 já fazia parte do Kevin Ayers and The Whole World , além de que desde muito jovem aprendeu a tocar vários instrumentos diferentes, sendo a guitarra o seu principal instrumento.
Em 25 de maio de 1973, surge uma nova gravadora no mercado
inglês chamada Virgin Records (criada pelo futuro magnata Richard
Branson), e para começar com pé direito no acirrado mercado musical da época,
apostou todas as suas fichas num trabalho inovador para os padrões da época
que tinha chamado a atenção internamente, um disco com duas longas faixas, instrumental
com poucas incursões vocais, quase sem bateria, minimalista (repetição de um
mesmo tema musical, com poucas variações musicais), e que trazia um jovem multiinstrumentista
auto-didata e compositor de 20 anos recém-completados tocando mais de 10 instrumentos
diferentes e tinha todos os elementos para ser um trabalho impactante na história
da música: tudo isso resume-se a Tubular Bells,
o disco de estréia do Mike Oldfield. Um ponto interessante a ressaltar é que
a política da Virgin foi sempre de investir em artistas em começo de carreira,
sendo que tinha no seu cast durante a década de 80 artistas do porte do Human
League, Culture Club, Phil Collins, Simple Minds, entre outros.
Com a ajuda do lendário DJ John Peel (que tinha o feeling de sacar bandas
e artistas que tinham tudo para ser bem sucedidas), o disco acabou sendo um
sucesso na Inglaterra, ficando mais de um ano e meio nas paradas, sendo que
até hoje já vendeu mais de 16 milhões de cópias em todo mundo. Além disso, Tubular
Bells é conhecido como a música do clássico file de terror O Exorcista,
visto que foi parar no filme como uma estratégia de marketing do disco nos EUA,
só que o músico não foi consultado sobre permitir o uso de sua música no filme.
Tubular Bells trazia
elementos que anteriormente não tinha sido vistos nas composições da época,
nem mesmo dentro do cenário do rock progressivo (que estava no seu auge). O
minimalismo hipnotizante do início da música (e usado no filme), a presença
de climas e atmosferas musicais, criando algo único e que viria a influenciar
uma geração de músicos preocupados com uma sonoridade para a nova era, utilizando-se
de músicas mais tranqüilas, introspectivas, relaxantes, emocionais e climáticas.
Ou seja, Tubular Bells plantou a semente do que viria a ser o movimento new
age, por mais que o próprio Mike relute esse crédito que lhe é dado, visto os
elementos rock ali presentes e a diversidade do trabalho que desenvolveu posteriormente.
Nesses mais de 30 anos de carreira, temos uma diversidade de estilos que compõe
o som do Mike, englobando elementos de música folk, celta, africana, flamenca,
clássica pastoral, tradicional, rock, progressivo, pop e eletrônico, criando
uma música com uma identidade própria e única. De 1973 a 1978, temos uma fase
no qual temos longos instrumentais na linha do rock progressivo, como o próprio
Tubular Bells (1973), Hergest Ridge (1974), Ommadawn (1975)
e Incantations (1978); entre 1979 e 1980, começou uma fase mais acessível,
inicialmente com instrumentais mais curtos e poucas canções em Platinum
(79) e QE2 (1980 – que conta com Phil Collins como baterista convidado).
Quanto aos anos 80,
vemos na carreira do Mike uma preocupação em criar trabalhos de qualidade, mas
mais voltados a um lance mais acessível comparado com o quem já tinha feito
até então, voltado ao pop-rock da época, sem esquecer de manter a tradição de
ter um instrumental, seja ele de curta duração ou um que ocupasse o lado A do
disco. Em Five Miles Out (1982), temos a música Family Man, escrita
pelo Mike e seus músicos de sua banda de apoio na época, cuja versão orignal
não fez sucesso, mas a dupla americana Daryl Hall and John Oates acabou conseguindo
em seu álbum H2 O, e que por sinal também ganhou um clipe. Foi em
1983 com o álbum Crises que o sucesso se repetiu na carreira do Mike
depois de um longo tempo, com a canção "Moonlight Shadow", que foi um
hit na Europa (sendo até hoje regravada por artistas dance e por aqui tocou
no começo dos anos 90 em várias festas), contando com os vocais angelicais
de Maggie Reilly, que fazia parte do grupo do Mike desde 1980. Um momento
marcante foi a performance desta música no famoso programa da BBC – o Top
of The Pops (TOTP), marcando definitivamente a faceta mais acessível do
seu trabalho. A partir de Crises, os discos seguintes até Earth Moving
(1989) tinham a mesma estrutura adotada pelo The Alan Parsons Project,
trazendo vocalistas convidados para cantar as músicas compostas pelo Mike, sendo
uma fórmula que foi bem sucedida no caso dele.
1984 foi um ano agitado para o Mike, primeiro com o lançamento
de seu novo trabalho, Discovery, com o hit "To France" (novamente
com o vocal de Maggie Reilly) e veio um novo desafio em sua carreira até então
bem sucedida. Apesar da referência de Tubular Bells como música do filme "O
Exorcista", ele acabou por trabalhar em sua primeira e única trilha sonora até
os dias de hoje, para o filme "Os Gritos do Silêncio" (The Killing
Fields), de Roland Joffé, que conta o relacionamento verídico de um jornalista
americano e seu assistente local durante a guerra no Camboja durante os anos
70, mostrando a crueldade do regime vigente na época, a destruição, o lado desumano,
e as dificuldades encontradas na região. Nesta trilha sonora, o que chama atenção
é a base eletrônica dela, sendo principalmente executada por um sintetizador
e precursor dos samplers atuais chamado Fairlight (muito usado pelos
grupos de synth-pop dos anos 80), com elementos de música oriental da região,
sendo uma trilha que foge um pouco do padrão de trilha clássico calcado apenas
na orquestra. "Os Gritos do Silêncio" foi um filme marcante e que fez um certo
sucesso, mesmo sendo baseado numa história verídica e forte, acabou ganhando
3 Oscars, e que passou várias vezes ao longo dos anos 80 na TV.
Por volta de 1983/84, com o boom dos videoclipes como ferramenta promocional
de extrema importância, o Mike adquiriu os mais sofisticados equipamentos de
vídeo na época, e começou a expandir suas idéias musicais, ao criar e dirigir
seus próprios clipes, criando obras de arte visuais. Então para o novo disco
que tinha em mente, Islands (1987), além das músicas em si, cada música
ganhou um vídeo, inclusive o instrumental que dá nome ao vídeo, The Wind
Chimes. Como era um projeto inovador para a época, de criar uma espécie
de vídeo-álbum, muitos não entenderam a idéia, e foi um fracasso. Quanto às
músicas, Islands tinha alguns pontos interessantes musicalmente falando, como
a colaboração de Michael Cretu (que posteriormente formaria o Enigma)
e nada mais nada menos que um ícone dos anos 80 de volta na faixa-título: Bonnie
Tyler (ela mesma, de "Total Eclipse of the Heart"!), que participou do vídeo
e de algumas apresentações ao lado do Mike em programas da TV inglesa.
Em 1989, já com o relacionamento com a gravadora Virgin bem desgastando, lança
o álbum Earth Moving, desta vez sem nenhum instrumental, bem do jeito que a
gravadora queria, com destaque para os vocais de Chris Thompson (do Manfred
Mann’s Earth Band e um dos autores de "You’re The Voice", sucesso com John
Farham), e a música "Innocent", interpretada pela cantora norueguesa Anita Hegerland.
E em 1990, lança seu álbum de protesto totalmente anti-comercial, nos moldes
dos seus discos de longos instrumentais dos anos 70, chamado Amarok, que é uma
música de apenas 1 hora de duração. O canto do cisne na Virgin veio com Heaven’s
Open (1991), no qual o próprio Mike encarregou-se de cantar todas as músicas,
e sair creditado com o nome de Michael Oldfield, sendo um disco bem autobiográfico
cuja faixa-título é bem positiva e otimista.
Além do contrato que obrigava o Mike Oldfield a lançar 13 discos (excluindo-se
coletâneas e trilhas sonoras), o grande sonho da Virgin era que o Mike lançasse
o Tubular Bells II, a continuação do clássico de 1973, só que foi na
Warner em 1992 que acabou saindo o disco, baseado nas estruturas do original,
e que teve uma premiere no lendário Castelo de Edinburgo no mesmo ano, chegando
a passar na TV brasileira. Nos anos 90, o trabalho do Mike foi bem diversificado,
sendo que cada disco segue um estilo próprio: o futurismo de The Songs of
Distant Earth (1994 – baseado no livro de mesmo nome de Arthur C. Clarke
e sendo um dos primeiros discos a trazer uma faixa-multimdídia para computador)voltando
às origens ao gravar música celta em Voyager (1996), mais um disco da série
Tubular Bells que retrata a passagem do Mike pela ilha de Ibiza (a Meca da música
eletrônica) com elementos eletrônicos fortes em Tubular Bells III (1998 – e
que assim como o Tubular Bells II, ganhou uma premiere, desta vez em Londres
em House Guards Parade), um disco 100% guitarras e violões em Guitars (1999)
e revisitando o milênio em The Millennum Bell (1999 – não tem nada a
ver com o Tubular Bells, apesar do nome).
Do ano 2000 para
cá, temos um Mike focado em retomar o aspecto multimídia que sempre
lhe interessou desde os anos 80, ao criar jogos de realidade virtual num projeto
chamado MusicVR, mas isso não o impediu de lançar dois discos até hoje,
como Tr3s Lunas (2002), numa linha mais eletrônica chillout e de finalmente
poder realizar seu sonho secreto de 30 anos, a regravação
de seu principal disco, sim ele mesmo, Tubular Bells, visto que
sempre achou o original mal-feito, descompassado, fora de tom, e com as guitarras
desafinadas, sendo batizado de Tubular Bells 2003 (2003), marcando a volta para suas
origens, e o começo de um novo ciclo de sua carreira musical, marcada por
uma gama de estilos que o torna um artista que busca um
diferencial no mercado, mantendo sua personalidade independente do estilo musical adotado por ele.
Links úteis:
www.mikeoldfield.com - site
oficial do Mike
http://www.mikeoldfieldbrasil.blogger.com.br - Mike
Oldfield por Tati Oldfield