Lançado em 1975 pela Kling Klang Studio, Radio-Activity é o quinto álbum de Kraftwerk. Enquanto Autobahn representou uma fase extremamente importante por ser o primeiro álbum da banda a figurar as paradas americanas e por representar o início da mudança de estilo, Radio-Activity é muito importante por consolidar essa mudança. Tudo o que começaram no álbum anterior veio neste com mais força, representando a quebra total de qualquer barreira restante. Pouco antes de começar a gravar o quinto álbum, a banda investiu e aprimorou seu estúdio, o Kling Klang Studio, fazendo deste álbum o primeiro inteiramente gravado e produzido lá. Também foi o primeiro a contar com a formação clássica (Schneider, Hütter, Flür e Bartos), vista pela primeira vez na turnê de Autobahn. O álbum marca também o abandono total de instrumentos antes muito utilizados pelos integrantes como flauta e violino. Embora não tenha obtido o mesmo sucesso que o álbum anterior nos EUA e Reino Unido, Radio-Activity abriu as portas para o grupo no restante da Europa. Realizando turnê pelo continente, a resposta foi muito maior do que o esperado e o álbum rendeu Disco de Ouro na França. Esse foi o começo do significativo apelo do grupo no país. O que resultou na dedicatória realizada no álbum seguinte, o Trans Europe Express, quando aderiram a língua francesa pela primeira vez. Além da França, alcançou excelentes posições na Áustria e na terra natal, alcançando respectivamente o 1º, 4º e 22º lugares.
Independentemente dos resultados do trabalho do grupo nas paradas ou do número de discos vendidos, toda e qualquer obra da banda serviu e ainda serve de influência para inúmeros artistas. Deste álbum, temos exemplos como “Blue Monday” do New Order, onde há um sample da faixa “Uranium”. Outro exemplo, de um grupo mais atual, é “Leave Home” de Chemical Brothers, onde o sample de “Ohm Sweet Ohm” no início é bem claro. Radio-Activity traz um conjunto de som bem inusitado, misturando sons de transmissão de rádio e código Morse e até mesmo de elementos do espaço.Kraft nos mostra neste trabalho uma composição extremamente rica e, como de costume, cheia de efeitos que resultam em algo sempre novo e a frente de seu tempo. Mais interessante e visionário ainda é o significado por traz do som e a mensagem que a banda passa neste álbum. As letras e até mesmo a capa do álbum, sugerem um tema mais amplo do que o título nos sugere, falando não apenas de radioatividade, como também da “atividade do rádio” em nossas vidas. Como sempre, o grupo faz uma homenagem a tecnologia e aos avanços da humanidade. A capa, com mais significado ainda do que muitos podem imaginar, foi desenvolvida por Emil Schult (músico, compositor e designer que acompanhou a banda por muito tempo, inclusive em turnês).A ilustração retrata um modelo de rádio encomendado por Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda do Partido Nazista. Transmitindo somente estações da Alemanha e Áustria permitidas pelo partido (era crime ouvir estações de rádio estrangeiras), também foi usado para propagar as teorias nazistas. Nos fazendo lembrar que, infelizmente, a tecnologia é usada não apenas de forma boa e em prol do desenvolvimento, mas também de forma muito ruim e nociva. Uma das características que mais me agrada em Kraftwerk é justamente o paralelo que sempre buscaram e ainda buscam entre a tecnologia e o impacto dela em nossas vidas, retratando tanto o lado matemático e lógico quanto o lado humano. Embora seja muito difícil escolher (pelo menos para mim), posso dizer que este álbum é meu favorito! Como todos os artistas extremamente visionários, Kraftwerk não é um grupo fácil de agradar. Pelo menos não nos dias de hoje, para as gerações de hoje. Para aqueles mais acostumados com o resultado final de sua influência, como as bandas que surgiram no final dos anos 90 e início dos anos 2000, álbuns como Radio-Activity podem parecer não tão atrativos. Mas quando se trata de música, assim como de qualquer outra arte, é necessário conhecer o passado para entender o presente. Meio piegas, mas é a realidade, rs. Fica a dica para as novas gerações.
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Natascha Coelho |