A banda paulistana Ira figura bem no cenário musical brasileiro, influenciando em sua musicalidade e estilo diversos grupos que surgiram posteriormente. Os principais integrantes do grupo chamam-se Edgard Scandurra (Guitarra) e Nasi (Vocal). A atividade da mesma durou entre 1981 e 2007, porém foi em 1986, que ocorreu o lançamento do álbum Vivendo e não Aprendendo, no qual encontra-se o single Dias de Luta. O álbum foi gravado na cidade do Rio de Janeiro através do estúdio Nas Nuvens.
Muitas faixas do álbum se tornaram sucessos nos anos 80 e até hoje é classificado por críticos e fãs como um dos mais impactantes trabalhos de estúdio do rock nacional. A letra de Dias de Luta possui uma sensibilidade e ao mesmo tempo um olhar amplo das metamorfoses humanas em seus respectivos processos genéticos. A harmonia dos instrumentos na canção, aliada a voz suave nos fazem relaxar e ao mesmo tempo interpretar de forma clara e objetiva a proposta de Edgard Scandurra, afinal ele foi o responsável por compor tal trabalho.
No decorrer de sua carreira o Ira foi envolvido em diversas polêmicas, desde músicas a comportamentos de integrantes e principalmente na incompatibilidade de idéias envolvendo produtores e os músicos. Os principais problemas ocorreram com a faixa "Pobre Paulista", onde a banda na época era acusada de atos fascistas em sua letra devido insultar de forma subliminar migrantes, predominantemente das regiões norte e nordeste, algo ainda muito comum na sociedade paulistana, praticado principalmente por indivíduos oriundos da elite local, porém eles afirmaram que as mensagens eram direcionadas aos militares, levando em consideração que o país tinha passado por uma transição política recente. O Festival Hollywood Rock de 1988 também marcou um desvio de comportamento dos integrantes do Ira, a apresentação que ocorreu na praça da Apoteose, no Rio de Janeiro foi comprometida pois eles subiram ao palco com 35 minutos de atraso, sofreram com a hostilidade dos cariocas e quando encerrariam a apresentação com a música "Pobre Paulista" os amplificadores foram desligados antes de tocarem a canção. Com um nível de nervosismo elevado, Scandurra atirou a própria guitarra contra o palco com força, destruindo o instrumento diante da platéia. Já na apresentação feita em São Paulo pelo mesmo festival, uma semana depois, a banda se empenhou em fazer um bom show sem maiores transtornos. Outras músicas com bons arranjos e receptividade tanto do público quanto de críticos são: Envelheço na Cidade, Casa de Papel, Tanto Quanto Eu, Vitrine Viva!, Flores em Você, Quinze Anos (Vivendo e Não Aprendendo), Nas Ruas e Gritos na Multidão. A inspiração dos rapazes da banda sem dúvida foi o processo de transição que o país foi submetido, com letras bem avessas ao governo da época e com cunho libertário. Tanto a situação social do país quanto a forte identificação com a cidade de São Paulo são muito presentes no álbum. Chama a atenção a maturidade de Scandurra, que de forma inteligente conseguiu passar uma mensagem a sociedade insatisfeita, que ainda foi forçada a assistir o fracassado plano cruzado em ação e os altos índices da inflação provocada pelos incompetentes oligarcas do poder. Com o tempo devido brigas e demais fatores o grupo chegou ao fim, no qual Nasi e Edgard Scandurra seguiram carreira solo e apostaram em novos projetos. O legado do Ira na música nacional é importante, assim como Legião Urbana, Capital Inicial, Titãs, entre outros. Com uma forma simples e eficiente, que pode ser notada em Dias de Luta, facilmente a banda conseguiu formar a opinião de uma geração que sabia o que queria, porém como o autoritarismo político-militar imperava em tal período certas limitações eram facilmente compreendidas, o contrário de hoje, onde há muito apelo comercial visando o lucro e uma pobreza no sentido poético das músicas e mensagens interessantes aos fãs, imperando a superficialidade medíocre comum do contemporâneo, enfim... Dias de Luta, mesmo clássica continua bem atual, isso na perspectiva de pessoas críticas e com visões de mundo fora do padrão atual mas bem sóbria.
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Aldiéres Silva |