Thomas Dolby, a ciência à serviço da música
pop
Thomas Dolby, nasceu em 14 de outubro
de 1958 no Cairo, sob o nome de Thomas Morgan Robertson era um garoto
incomum que desde cedo tinha uma inclinação para desmontar e remontar
tudo o que via pela frente. Essa curiosidade já estava no sangue, uma
vez que o seu pai tinha uma profissão que só pode ser exercida por quem
tem a curiosidade aguçada (arqueologista).
Incentivado pelos pais, foi estudar meteorologia mas já no colégio se
sentia atraído pelos equipamentos eletrônicos, especificamente pelos equipamentos
musicais que já nos anos 70 estavam em alta entre as bandas cultuadas
na época e que estavam no auge. Leia-se aqui os grandes nomes do progressivo
que utilizavam estes equipamentos à exaustão (Pink Floyd, Yes, Genesis).
O jovem Thomas já era um amante da música naquela época e estava muito
atento ao que acontecia... principalmente ao que os alemães do Kraftwerk faziam.
O sinal definitivo de sua genialidade foi ter construído
aos 18 anos o seu próprio sintetizador. A meteorologia estava definitivamente
deixada de lado. Nessa mesma época ele também estava aprendendo a tocar
outros instrumentos como guitarra, piano, paralelamente ao aprendizado
sobre computação. Thomas enxergava longe. Já em 77, incoscientemente,
dava os primeiros passos do que alguns anos depois seria chamado de synth
pop ou technopop, antes mesmo de se tornar um músico conhecido.
Todo esse envolvimento com equipamentos
musicais levou seus amigos a colocarem um apelido que ele próprio assumiria
como sua marca registrada: Dolby. Virou motivo de piada entre os garotos
fortões e candidatos a atletas galãs e das garotas bonitas. Mas em 78,
já completamente imerso em suas invenções e cada vez mais interessado
pela música, decidiu procurar trabalho e se envolver profissionalmente
com música tornando-se colaborador de estúdio de algumas bandas conhecidas,
como The Fall do hit "Mr Pharmacist".
Nesses trabalhos, curiosamente, ele era requisitado por conta de suas
invenções, a mais famosa delas o seu PA system que tinha algumas
características invoadoras, principalmente na sonoridade e na qualidade
do som final das produções.
Em 79 formou uma banda chamada Camera Club que trazia
na sua formação um rapaz que se tornaria um dos gênios da produção de
discos pop na década que iria se iniciar: Trevor Horn,
que chegou a produzir algumas músicas do New
Order, Pet Shop Boys, Propaganda,
Frankie Goes to Hollywood, etc. Mas
pouco menos de um ano depois ele deixou a banda e entregou uma composição
sua chamada New Toy à iniciante Lene
Lovich que acabou se tornando um hit na Inglaterra. Ainda
em 81, outra composição sua fez muito sucesso nas paradas da Grã Bretanha
na mãos do grupo Whodini.
Paralelamente à sua carreira solo, Dolby continuava a ser requisitado
para fazer participações em discos de outras bandas ou artistas. Pouca
gente sabe, mas ele participou do disco 4 do Foreigner e tocou sintetizadores no grande hit Waiting
for a girl like you que é um clássico dos anos 80 e toca
até hoje em algumas rádios.
Finalmente em 82, lançou o seu primeiro
disco sob o nome de The Golden age of Wireless que entrou
no top 20 e o single Windpower, entre as 50
músicas mais tocadas na Inglaterra. Na virada de 82 para 83, ele lança
um EP chamado Blinded with Science pois estava decidido
a assumir a identidade de "cientista louco", uma vez que assumir
personagens era uma tendência naquela época. Para ele, nada melhor do
que se transformar no seu alter ego.
A MTV americana estava começando suas atividades e precisava de videos.
Sabendo disto, a gravadora resolveu solicitar que Thomas Dolby participasse
de um vídeo-promo, que estreou nos EUA com o vídeo de "She blinded
with me sciencie" que contava a estória de uma bela mulher que deixa
todos loucos com a "ciência". O vídeo foi sucesso imediato,
a MTV não parava de passar e Thomas Dolby chegou aos EUA direto na 5ª
posição da Billboard.
O segundo álbum, The Flat Earth foi lançado em
1984, e foi muito bem nas paradas inglesas. Já nos EUA não foi tão bem
passando quase despercebido pelos americanos que quase não prestavam atenção
ao que vinha de fora. Estavam mais preocupados em descobrir quem eram
as próximas garotas que iriam tomar as paradas norte-americanas...
Mas Dolby não se abateu por causa disso. Afinal de contas, se ele não
era sucesso de público, era sucesso absoluto da crítica especializada.
E também dos músicos. Dolby começou a ser inundado de convites para colaborações
em discos devido às suas inovações em técnicas de gravações de
estúdio. Participou de praticamente de todos os álbuns dos seguintes
artistas que foram lançados no período de 84 à 87: Joni Mitchel, Stevie
Wonder, Herbie Hancock, Prefab Sprout (que ele fez parte como membro oficial
da banda no disco "Steve MacQueen") e Dusty Springfield. Participou
ativamente do Live Aid, tocando com David Bowie.
Tanta notoriedade chamou a atenção dos laboratórios Dolby que o processaram
em 86 por uso indevido da marca. A empresa conseguiu que temporariamente,
Thomas Dolby fosse proibido de utilizar o sobrenome notório, mas Dolby
conseguiu fazer um acordo amigável na justiça, o que permitiu que ele
continuasse a utilizar a marca que o deixou famoso.
Como bom músico compôs algumas trilhas sonoras
de filmes também. É sua a trilha do ótimo, porém injustiçado Howard,
the Duck. Mas a personalidade de Thomas ainda era a do cientista.
Continuava a sua busca por novas descobertas no mundo dos equipamentos
eletrônicos. Ele chegou a escrever alguns artigos para revistas de computação,
informática e tecnologia. Ainda assim, lançou o terceiro disco Aliens
at my Buick em 1988 e que foi bombardeado pela crítica que naquela
época estava envolvida na house e na acid house, rejeitando o disco que
foi chamado de fraco e Thomas acusado de falta de criatividade. O disco
também foi mal recebido pelo público que também estava mais ligados nas
linha eletrônica mais dance do Front
242 e o New Beat belga.
Dolby se casou em 1988 e continou a trabalhar como músico de estúdio,
produzindo trilhas e discos de artistas desconhecidos e também continou
inventando equipamentos eletrônicos e musicais. Em 91 participou do show
histórico produzido por Roger Waters, o "The Wall" em comemoração
à queda do muro de Berlim que havia acontecido em 89. Em 92 lançou o disco
Astronautics & Heretics. Um disco totalmente injustiçado,
pois além de ser um dos melhores de sua carreira, trouxe a participação
inusitada de Eddie Van Halem, Jerry Garcia e da egípcia Ofra
Haza. Um disco que uniu várias tendências e com uma produção
muito bem cuidada.
Em 93, Dolby criou uma empresa de tecnologia chamada Headspace especializada
em software para computadores. Era o cientista finalmente encontrando
a sua real vocação. Seu último trabalho como músico foi a trilha sonora
chamada The Gate to the Mind's Eyes . Depois disso, apenas
apareceu em coletâneas dedicadas aos anos 80 e algumas coletâneas lançadas
cobrindo a sua obra.
Recentemente, o guitarrista do Genesis inclui em seu disco a música "The
Devil's is a English man" de Thomas Dolby se dizendo um grande fã dele.
Em 2004 circulou na Europa um disco ao vivo chamado Forty.
Marcos Vicente e Robson Leandro da Silva
Discografia
The Golden Age of Wireless The flat Earth Aliens at
my Buick Astronautics and Heretics
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