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O Iluminado

Heeeere´s Johnny! Aaah!!! As meninas se encolhem nas cadeiras e agarram o braço do moço mais perto. “O Iluminado” causa na platéia um clima de tensão ininterrupta e a crescente loucura de Jack Torrance (Jack Nicholson) dá cada vez mais e mais medo. Depois do filme, quando me perguntassem “Do que é que você tem medo?”, eu diria: “Hum... de gente.”

O filme começa na estrada, com tomadas distantes de Jack, em seu pequeno carro, seguindo para o Hotel Overlook, onde ele ficaria por todo o inverno trabalhando como zelador e aproveitando o isolamento para escrever. A família é Winnifred, a esposa magrela e esquisita e Danny, o menino loirinho que é a razão do nome do filme – aliás, do best seller de Stephen King, de 1977.

Danny é o que chamariam de “iluminado”. Ele consegue ver coisas que ninguém mais vê (pelo menos até que estejam loucas o suficiente): é o primeiro a encontrar-se com fantasmas no hotel, e, em flashes, ele vê o que está para acontecer. Tony, o amigo imaginário que vive na boca dele, bem que tinha dito: “Eu não quero ir para o hotel, Senhora Torrance”.

Enfim, o hotel. Isolado pelo inverno, pela distância e pelos telefones mudos, o Overlook transforma-se num personagem, um mundo fechado – ambiente fértil para o surgimento de coisas assustadoras. Os grandes corredores e salas do lugar criam o clima de “casa mal-assombrada” e o isolamento que acabaria por deixar Jack um psicopata.

Redrum Logo no começo, o menino Danny conhece Halloram, o cozinheiro do hotel que também era “iluminado”. Ele alerta o menino: “nunca entre no quarto 237. Ele está trancado, e é por um bom motivo”. Pra quê! Um dia, ao pedalar com seu triciclo pelos corredores encarpetados do hotel, ele encontra a porta 237 aberta. E entra. A cena corta. Aparece Jack, tendo um pesadelo: “eu sonhei que tinha matado você e Danny. Mas eu não tinha só matado, tinha cortado em pedacinhos” (exatamente o que tinha feito Grady, um antigo zelador do hotel).

Durante o filme, Danny tem vários encontros com o desconhecido: da bolinha que vem rolando pelo corredor vazio às meninas iguais - “venha brincar com a gente... para sempre!” - passando pelo sangue que jorra do elevador. Mas depois do que acontece no quarto 237 (o quê? Eu também não sei o que acontece. Danny diz para a mãe que uma mulher maluca quis estrangulá-lo, e só), Tony toma o controle. “Danny não está mais aqui, senhora Torrance”, diz o menino com uma voz gutural e assustadora. Ele pega o batom da mãe e escreve na porta: “redrum”. Pelo espelho, a mãe grita ao ver “murder” (assassinato, em inglês).

Aliás, a mãe só grita. E ela consegue ser tão chata e feinha que, ao competir com o carisma de Nicholson, muita gente deve ter desejado que ela morresse logo (ah, eu sou um deles). Ao contrário, o menino é muito esperto, e merece a nossa torcida. Já no final do filme, quando foge do pai pelo labirinto de cerca viva (hum... alguém falou em Labirinto?) , ele usa um truque: anda de costas para disfarçar as pegadas e se esconde atrás da cerca. Sabido, não é? Ele, sim, merece sobreviver em qualquer filme de terror. Mas “O Iluminado” não é qualquer filme de terror, embora o menino chegue são e salvo ao final. É até difícil falar de tudo, tantas são as interpretações possíveis. O que é verdade? O que faz parte da loucura de Jack? Hum. Melhor alugar o filme, e ver várias vezes seguidas. Afinal, quem sou eu para falar de uma dobradinha Stephen King - Stanley Kubrick?

Rixas “O Iluminado” tem a capa de filme mais medonha da história das locadoras. É a cara do Jack Nicholson, quando ele quebra a porta do banheiro a machadadas, obcecado em matar a mulher. E quem melhor que ele para fazer o personagem? Muita gente discorda, até o próprio Stephen King: ele teria dito que a presença de Nicholson no filme tinha desviado a atenção do principal personagem da história, o hotel. Alguns críticos alegaram que ele não era o ator ideal para o papel de um homem que vai ficando louco ao longo da história, porque ele já tinha cara de louco desde o começo (pudera! Aquelas sobrancelhas...). Mas uma coisa é certa: sem Jack Nicholson, “O Iluminado” poderia ser só mais um filme de terror. Isto é, se não fosse um filme do Kubrick.

O diretor, famoso por sua compulsividade e perfecionismo, conseguiu filmar a cena do sangue no elevador em apenas três tomadas. Fácil? Que nada! Foram nove dias só para preparar a cena. Ele teria dito várias vezes: “não parece sangue”. Segundo o livro dos recordes, “O Iluminado” é imbatível no quesito número de tomadas por uma cena. Na cena em que Wendy foge de Jack pela escada, foram 125 tomadas.

O filme rendeu um remake (ou uma “versão do autor”, caso prefira assim). Em 1997 o diretor Mike Garris lançou “O Iluminado, de Stephen King” minissérie de quatro horas para a TV – que, comparada à obra anterior, não passa de história pra criança dormir. Aliás, falando em criança, o menininho que fez Danny se divertiu muito no set de filmagem. Ele só teria entendido que aquele era um filme de terror muitos anos depois. Bom, melhor pra ele.

 

Trechos assustadores:

Danny: Mr. Hallorann, você tem medo deste lugar?
Dick Hallorann: Não. Medo – não há nada aqui. É só que, você sabe, alguns lugares são como pessoas. Alguns são iluminados, outros não. (...)
Danny: E o quarto 237?
Hallorann: Quarto 237?
Danny: Você tem medo do quarto 237, não tem?
Hallorann: Não, não tenho.
Danny: Sr. Hallorann, o que tem no quarto 237?
Hallorann: Nada. Não tem nada no quarto 237. Mas você não tem nada que fazer lá, mesmo. Então fique longe. Entendeu? Fique longe.

Jack Torrance: Você foi o zelador daqui, Sr. Grady.
Delbert Grady: Não, senhor. Você é o zelador. Você sempre foi o zelador. Eu sei disso: eu sempre estive aqui.

Delbert Grady (falando a Jack sobre a esposa e filho dele): Talvez eles precisem de uma boa conversa, se você não se importa que eu diga. Talvez um pouco mais. Minhas filhas, senhor, elas não gostaram do Overlook no começo. Uma delas até roubou uma caixa de fósforos, e tentou colocar fogo no hotel. Mas eu as “corrigi”, senhor. E quando a minha mulher tentou me impedir de cumprir o meu dever, eu a “corrigi” também.

Jack: Wendy...
Wendy (com um taco de beisebol): Fique longe!
Jack: Querida. Luz da minha vida. Eu não vou te machucar. Você não me deixou terminar a minha frase. Eu disse que não vou te machucar. Eu só vou esmagar a sua cabeça. Eu vou bater na sua cabeça até esmagá-la.

Danny: Redrum. Redrum. Redrum.

Jack (quebrando a porta do quarto com um machado): Wendy, cheguei!

Jack: Here´s Johnny!

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Anos 20 e outras coisas para você quebrar a cabeça
Espelhos, fantasmas e índios: veja texto sobre interpretações do filme. Quem sabe você não acaba entendendo a história?

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Elisa Volpato

 
FICHA

"O Iluminado "
Título original: "The Shining",
também conhecido como "Stanley Kubrick's The Shining"
Estados Unidos, 1980.

"A Masterpiece Of Modern Horror" (uma obra-prima de terror moderno).
Versão original: 146 minutos

 

Jack Nicholson - Jack Torrance
Shelley Duvall - Wendy Torrance, a mãe
Danny Lloyd - Danny Torrance, o menino
Scatman Crothers - Dick Hallorann
Philip Stone - Delbert Grady
Lia Beldan - mulher jovem na banheira
Bille Gibson - mulher velha na banheira
Lisa Burns - filha(s) de Grady

Stanley Kubrick - Direção e roteiro
Stephen King - autor de "The Shining", 1977.

Outra versão:
"O Iluminado de Stephen King" (1997)
Minissérie de quatro horas para a TV


Links (em inglês):


"O lluminado" seria uma versão da história do extermínio dos índios americanos:
www.drummerman.net/shining/essays.html

Sobre a dualidade e espelhos no filme:
www.drummerman.net/shining/duality.html

Faq sobre "O Iluminado":
www.visual-memory.co.uk/faq/html/shining

"O Iluminado" em 30 segundos com coelhinhos: www.angryalien.com


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