“Hysteria” é o quarto álbum da banda britânica pioneira do synthpop, The Human League. Depois de ter lançado o fenomenal Dare, considerado até hoje como um dos 10 discos mais importantes da história da música, o álbum responsável por colocar uma banda britânica no topo da parada americana, depois de 11 anos (desde os Beatles nenhuma banda havia liderado o top americano, até a chegada revolucionária de Dare do Human League). Para se ter uma idéia da importância do Dare, simplesmente abriu as portas das paradas de todo o mundo, depois desse álbum, Depeche, Eurythmics, Tears for Fears, New Order, entre várias outras bandas, começaram a tocar em outros países do mundo. Tarefa difícil lançar um álbum subsequente a um dos 10 melhores discos de todos os tempos. Mas o Human League conseguiu. Obviamente não conseguiu o mesmo êxito obtido com “Dare”, mesmo contando com o megahit “The Lebanon”. O próprio nome do álbum faz referência aos vários problemas que surgiram na época de sua produção e gravação. Os produtores Martin Rushent e Chris Thomas (o mesmo que produziu bandas como Roxy Music e Sex Pistols) não suportaram a tarefa de fazer uma sequência ao Dare, que viria a ser concluído por Hugh Padgham. A banda levou três anos para lançar “Hysteria”, pois queriam realizar um trabalho perfeccionista e de qualidade, o que não poderia ser feito às pressas. Seu lançamento em 1984, provocou inevitáveis comparações com seu aclamado álbum antecessor, “Dare”, e foi considerado mais fraco, adjetivo que, mesmo injusto, pode ser compreendido, afinal as pessoas costumam criar fortes expectativas quando uma banda acabou de revolucionar o mundo da música em seu último trabalho. Mesmo com críticas negativas, o álbum colocou três singles na parada Top 20 no Reino Unido, chegando ao 3º lugar e lhe rendendo o Disco de Ouro.
Dessa vez a mídia americana só deu espaço para “The Lebanon”. Mesmo sem cobertura da mídia o álbum conseguiu entrar na parada da Bilboard. Consciente de que não repetiria o êxito de “Dare”, o Human League decidiu “experimentar” e fugir um pouco de suas origens synthpop, que tanto caracterizavam a banda. Introduziu alguns solos de guitarra, acompanhados de um forte baixo eletrônico em “The Lebanon”, com uma das primeiras letras pacifistas da década, forte e com uma mensagem que até hoje está na cabeça dos fãs dos 80, "quem terá vencido quando os soldados voltarem pra casa?" deixando claro que não há vencedores numa guerra! O álbum é recheado de melodias fantásticas. “The Lebanon” fala da vida durante um período de guerra. Seguindo uma linha politizada que o OMD já fazia desde 78, e principalmente o Heaven 17, banda que nasceu do seio do Human League, formada por 2 ex-integrantes do Human, e que tinha letras fortes e também muito bem elaboradas. Alguns fãs passaram a considerar o Human League como uma banda new wave, até pelo uso das cores na capa do álbum, nos clipes, e não o synthpop puro e experimental, pois “Hysteria”, é bem mais pop e colorido com a introdução de instrumentos convencionais como guitarra e baixo nas melodias. Porém, a maioria de seus fiéis fãs declararam preferência pelas composições que tinham os sintetizadores como base melódica, que realmente era superiores. Em "Rock Me Again", Phil Oakey opta por um vocal desajeitado e distorcido, que a banda, em unânime consenso, jamais repetiu em seus projetos subseqüentes. “The Sign” faz lembrar as incríveis melodias pop como “Mirror Man” e “Fascination”, disputando a preferência com “The Lebanon” como o principal hit do álbum. Sua letra traz uma mensagem de otimismo, “everything will be fine” – tudo acabará bem. Menciona membros do governo afirmando que não há razão para preocupação com bombas nucleares, “pois cuidaremos de vocês”.
“Betrayed” aborda as diferenças regionais e gritantes dentro do Reino Unido, onde as pessoas que vivem no Sul do país e que são privilegiadas pela grande oferta de empregos, não fazem idéia das imensas dificuldades vividas por quem vive no Norte do país. Não há muita variação musical no álbum e suas canções se apóiam fortemente em seus refrões, citando “I’m Coming Back” e “So Hurt” como as melhores considerando este quesito. “Louise” (primeiramente lançada em 1984 como um single) e “Life On Your Own” (bastante compassiva), fazem parte do álbum principalmente por serem apaixonantes e já era prévia do que viria em Crash, o álbum subsequente da banda, lançado em 86, que trouxe a maravilhosa balada "Human".
Ao ouvirmos “Hysteria” pela primeira vez, fica óbvio o árduo trabalho da banda em dar formato ao álbum, porém por ter sido o trabalho subseqüente à “Dare”, não foi surpresa para o Human League a falta de receptividade por parte da crítica e público. A crítica considerou as melodias de “Hysteria” monótonas e apáticas, mas reconheceu a extrema pressão que o Human League sofreu na produção de um álbum que alcançasse sucesso, após o incrível projeto “Dare” (Disco de Platina). Em “Hysteria”, o Human League considera mais importante o fato do álbum reunir canções pop de qualidade. Mesmo não compartilhando dos mesmos gostos musicais, os quatro membros da banda que diretamente estiveram envolvidos na composição das canções, unem-se na paixão pela música pop, que é expressa em todos os seus projetos. “Hysteria” teve seu relançamento em 2005, totalmente remasterizado e repleto de B-sides, remixes e faixas bônus, e tornou-se uma valiosa jóia para os fãs de anos 80.
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Malú Ignácio |